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Chico Alves

A incrível dificuldade da família Bolsonaro de se preocupar com o Brasil

Jair Bolsonaro acompanhado dos filhos Flávio, Eduardo e Carlos - Roberto Jayme/Ascom/TSE
Jair Bolsonaro acompanhado dos filhos Flávio, Eduardo e Carlos Imagem: Roberto Jayme/Ascom/TSE

Colunista do UOL

19/03/2020 19h01

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Enquanto se multiplicam no Brasil os casos de coronavírus, também crescem as demonstrações de solidariedade de pessoas que se dispõem a ajudar a comunidade nesse momento difícil. Há exemplos de todos os tipos, desde jovens imberbes que se oferecem para fazer compras para os idosos confinados até o poderoso dono da Ambev, Jorge Paulo Lemann, que mobilizou sua indústria para fabricar 500 mil unidades de álcool-gel para doar aos hospitais públicos.

São brasileiros tentando, em maior ou menor grau, ajudar o país nesse momento difícil.

Ao mesmo tempo em que essa onda de união começa a se formar, o presidente Jair Bolsonaro e seus filhos têm outra prioridade. Às portas da catástrofe sanitária e econômica, estão mais preocupados com a guerra ideológica que lhes serve de combustível nas redes sociais.

É como se vivessem em realidade paralela. Estão sempre em diálogo com os olavistas criadores de fake news, completamente alheios ao destino dos brasileiros. Criar tretas virtuais, xingar quem discorda deles e autoelogiar-se, é com isso que gastam seu tempo.

O último e lamentável episódio foi a postagem em que o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL/SP) acusou a China pelo aparecimento do vírus. Isso mesmo: enquanto famílias se esforçam para manter isolamento social e seguir as orientações de higiene, governadores se mobilizam para aumentar drasticamente o número de leitos de UTI e os profissionais de saúde estão dando duro contra a pandemia, o filho 03 gasta seu tempo para se mostrar vassalo mais uma vez e repetir nas redes sociais a bobagem dita pelo presidente americano, Donald Trump.

O embaixador da China no Brasil, Yan Wanming, obviamente reagiu. Exigiu que o deputado retirasse o que disse e afirmou que ele teria sido infectado por um "virus mental". Além disso, relatou em postagem no Twitter, posteriormente apagada, que a embaixada passou a receber ameaças por telefone.

Os políticos entraram em polvorosa. O vice-presidente Hamilton Mourão correu para dizer que Eduardo não representa o governo; o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pediu desculpas em nome do país e os representantes do agronegócio, que têm o país asiático como principal comprador, entraram em desespero.

Eduardo foi obrigado a fazer uma retratação meia-boca. Já o "chanceler" Ernesto Araújo soltou nota contraditória e amalucada, na qual reafirmou que o filho do presidente não representa o governo, ao mesmo tempo em que exigiu retratação do colega chinês por ter ofendido o presidente brasileiro — o embaixador chinês em nenhum momento citou Jair Bolsonaro em seus tuites.

Em meio à maior pandemia registrada em um século, autoridades de relevo da República foram obrigadas a se ocupar de uma crise diplomática causada gratuitamente pelo filho do presidente. Gastaram horas preciosas que deveriam estar usando para preparar a infraestrutura de atendimento dos pacientes quando o coronavírus estiver mais disseminado.

No dia anterior, o chefe do clã, Jair Bolsonaro, tinha ido pelo mesmo caminho. Em meio à entrevista coletiva convocada para anunciar medidas nas áreas da saúde e economia, o presidente abriu espaço para cobrar elogios à sua gestão (?) da crise, mais uma vez a ofender a jornalista Vera Magalhães e repetir a mentira de que o vídeo postado por ele em convocação para a manifestação do dia 15 de março era de quatro anos atrás.

Alguns dias antes, Carlos Bolsonaro e Flávio Bolsonaro tinham usado as redes sociais para destratar Rodrigo Maia.

A série de tretas se desenrolou como se a vida de tantos brasileiros não dependesse de o governo e os políticos dedicarem 100% de suas energias para tentar deter a pandemia que vem se alastrando. É como se tudo no país estivesse às mil maravilhas e eles pudessem ficar folgados, criando narrativas de ódio para sua claque virtual.

Espera-se que Bolsonaro e seus filhos mudem o rumo da prosa. Se o fizerem, terão espaço aqui e em outros veículos de imprensa para divulgar informações úteis.

Que a família do presidente saia urgentemente de sua rotina virtual e se una às milhões de famílias brasileiras que estão prestes a atravessar dias muito duros. São cidadãos que esperam responsabilidade e seriedade daqueles que deveriam conduzir o Brasil a um porto seguro, mas por enquanto só fazem criar desavenças na internet e fora dela.