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Chico Alves

Maioria dos líderes caminhoneiros apoia isolamento e discorda de Bolsonaro

24.abr.2018 - Manifestação de caminhoneiros  - Armando Paiva/Raw Image/Estadão Conteúdo
24.abr.2018 - Manifestação de caminhoneiros Imagem: Armando Paiva/Raw Image/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

05/04/2020 04h03

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Ainda que mantenha prestígio em algumas alas dos representantes dos caminhoneiros do Brasil, o presidente Jair Bolsonaro não conta com apoio de maior parte da categoria quando o assunto é a reabertura do comércio, defendida por ele, na contramão das medidas de isolamento contra o coronavírus.

Em conversas com sete representantes da classe, a coluna ouviu apoio da maioria às medidas de prevenção à covid-19, doença causada pelo novo vírus.

"A melhor prevenção é o isolamento", prega Diumar Bueno, presidente da Confederação Nacional de Transportadores Autônomos (CNTA). "Não vejo dos caminhoneiros nenhum apelo para voltar o funcionamento do comércio, já que as atividades essenciais estão sendo mantidas".

A CNTA é a principal entidade nacional da categoria. Congrega federações de todos os estados e 150 sindicatos de todo o país.

"Em primeiro lugar a ciência, quem entende de saúde", defende Carlos Alberto Litti, presidente do Sinditac (Sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga) de Ijuí, no Rio Grande do Sul.

"Devemos analisar o que está acontecendo no mundo, e os fatos vão na contramão do que o presidente brasileiro quer botar na cabeça da gente, de salvar a economia e não as vidas".

Sou daqueles que prefere centenas de falidos que milhares de falecidos.
Carlos Alberto Litti, presidente do Sinditac-Ijuí (RS)

A representação da categoria é pulverizada em centenas de sindicatos, federações, cooperativas e líderes independentes.

Na grande greve de 2018 emergiram vários porta-vozes dos caminhoneiros, cada um com sua fatia de seguidores.

Tanto Litti quanto Bueno participaram do movimento de dois anos atrás. Hoje têm posição diferente de dois representantes da categoria que também atuaram na paralisação.

Ala crê no raciocínio "sem comércio, sem indústria, sem trabalho"

Wallace Landim, conhecido como Chorão, presidente da Abrava (Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores), criada após a greve, se diz preocupado com o resultado do isolamento."Se o comércio não funciona, a indústria não fabrica. Aí não tem demanda para os caminhoneiros", afirma.

Ele recita a mesma tese do presidente Bolsonaro.

Minha sugestão é que as pessoas em situação de risco se previnam, mas o mercado tem que reagir, ou teremos um prejuízo maior que o do coronavírus.
Wallace Landim "Chorão", presidente da Abrava

Ariovaldo Junior, diretor do Sindicato dos Caminhoneiros de Ourinhos (SP), foi um dos organizadores da manifestação contra a decisão do governador paulista João Doria de fechar o comércio. Junior, como é conhecido, apoia Bolsonaro e esteve há alguns dias no "cercadinho" onde se reúnem os simpatizantes do presidente, no Palácio da Alvorada.

Junior e Chorão são das poucas lideranças a apoiar Bolsonaro hoje entre os caminhoneiros.

Até mesmo Wanderlei Alves, o Dedeco, um dos mobilizadores da categoria que até o ano passado fazia carreatas a favor do presidente, não concorda em defender a economia arriscando vidas no meio da pandemia. "Bolsonaro está louco", desabafou Dedeco, em entrevista ao jornal Valor Econômico.

"Puxa-sacos do governo"

Marconi França, representante dos autônomos de Pernambuco, também ativista da greve de 2018, não usa meias palavras. "Chorão e Junior são puxa-sacos do governo", diz ele, sobre a atitude dos colegas.

Num primeiro momento, Bolsonaro apoiou a paralisação e conquistou os votos de boa parte dos motoristas. "Posso dizer que pelo menos 90% votaram nele, mas muitos hoje estão arrependidos. Ele não apoia nossas causas, como a lei do piso mínimo e outras", diz França, que no ano passado participou com outras lideranças de várias reuniões com o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas.

Nelson Junior, diretor do Sindicarga (Sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga do Rio de Janeiro), pede apoio logístico na estrada, mas sem reabertura total do comércio.

Sei da dificuldade pela qual muitos estão passando, mas temos que escutar a OMS. Um ponto sobre o qual todos concordam é a necessidade de manter em funcionamento os estabelecimentos que servem de apoio para o trabalho dos caminhoneiros nas estradas.
Nelson Junior, diretor do Sindicarga

"Precisamos de lugares para comer, dormir e tomar banho, além de material para prevenção do coronavírus". Outra reivindicação é o cumprimento da promessa de franquear os pedágios aos veículos de carga.