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Chico Alves

Cesar Maia não dá sugestões ao filho Rodrigo: "É ele que me dá conselhos"

Rodrigo Maia e Cesar Maia - Divulgação
Rodrigo Maia e Cesar Maia Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

01/04/2020 14h02

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Rodrigo Maia era um jovem de 28 anos, jeito tímido e voz baixa, quando entrou na política pelas mãos do pai. Respeitado nacionalmente, depois de ser deputado e prefeito do Rio por três mandatos, em 1998 Cesar Maia apresentou o filho aos eleitores e aliados de seu partido da época, o PFL.

Hoje, a situação se inverteu. Cesar é vereador carioca pelo DEM e a estrela política da família é Rodrigo, um dos principais protagonistas do conturbado cenário político brasileiro na qualidade de presidente da Câmara dos Deputados.

O ex-prefeito acompanha à distância o desempenho do filho e diz que não tem dado sugestões sobre como enfrentar a crise. "Nos últimos tempos, ele é que tem me dado conselhos", corrige Cesar. A afirmação é um exercício de modéstia. O ex-prefeito é citado frequentemente em entrevistas e pronunciamentos públicos do filho, que em várias ocasiões lembra atitudes tomadas pelo pai como exemplos de gestão pública.

Aos 74 anos, Cesar está fechado no apartamento de São Conrado junto com a mulher, Mariangeles, como prevenção ao coronavírus. "Estamos em rigoroso isolamento, nem no elevador nós vamos". Aproveita para devorar o best-seller "Fascismo - Um alerta", livro da ex-secretária de Estado americana, Madeleine Allbright. Apesar do isolamento, se mantém trabalhando, participa das sessões virtuais da Câmara Municipal.

Entre a leitura e as tarefas de vereador, assiste na TV a atuação de Rodrigo no Congresso.

Os seguidos ataques dos bolsonaristas ao filho nas redes sociais e nas manifestações são motivo de sofrimento? "Zero. Sofrer mesmo foi quando fui preso pela ditadura por uns dois anos", responde o ex-prefeito. Militante de esquerda e integrante do movimento estudantil, ele foi trancafiado após a deflagração da Ditadura Militar, em 1964. Foi para o exílio no Chile, em 1968, onde conheceu Mariangeles.

Permanentemente ligado na movimentação dos bastidores, Cesar sempre foi visto como um analista arguto do mundo político. Nessa condição, avalia os instrumentos que o filho tem para se orientar nessa crise. "É ponderado e sempre com capacidade de articulação. Desde sempre sua maior qualidade é a capacidade de ouvir", define.

Tem avaliação diferente daqueles que comparam a atuação de Rodrigo Maia com a de um primeiro-ministro informal. "Não concordo. Ele é um exemplo de presidente democrático do Poder Legislativo",opina. Aos que planejam para o filho um lugar na corrida à Presidência da República, ele mantém os olhos no presente: "O Brasil precisa dele onde está".

Na sua leitura política, a crise causada pela pandemia do coronavírus surpreendeu o governo federal que segue "estilo vertical", mas tem visto sinais de mudanças nos últimos atos, embora "ainda não na retórica".

Em sua área de atuação como vereador, está de olho na preparação da rede de Saúde municipal do Rio para enfrentar a pandemia. Há pelo menos dois anos, o sistema está às voltas com falta de profissionais e insumos, mas Cesar acredita que se forem agregados os recursos que estão direcionados ao Rio, e "corretamente gerenciados", há como enfrentar a crise.

Como economista, evita prognósticos sobre quais mudanças a pandemia vai provocar na economia brasileira e mundial, já que tudo depende, segundo acredita, da duração do ciclo do coronavírus.

Mas desde já tem uma sugestão para reduzir os prejuízos: "É preciso reproduzir o New Deal de Roosevelt". Trata-se do plano executado na década de 1930 pelo presidente americano Franklin Roosevelt para enfrentar as perdas da Grande Depressão. O governo investiu bilhões de dólares em obras e outros empreendimentos, para manter empresas e serviços. Em suma, tudo aquilo que o ministro da Economia, Paulo Guedes reluta em fazer.