Rio tem maior letalidade do Brasil, mas Crivella quer acabar com isolamento
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Politicamente alinhado com Jair Bolsonaro, o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, mostrou que também tem em comum com o presidente as convicções estapafúrdias sobre o coronavírus. Na segunda-feira, o chefe do Executivo carioca soltou a seguinte pérola:"Não podemos negar: nós dominamos a pandemia". Ameaça relaxar o isolamento social e, como aperitivo, liberou o funcionamento de templos religiosos.
Afrouxar o isolamento seria criminoso, levando-se em conta que o Rio é a cidade brasileira com o maior índice de letalidade por coronavírus — a cada 100 pessoas que entraram em contato com o vírus, duas morreram, informa pesquisa feita pela Universidade de Pelotas/Ibope. Além disso, uma projeção feita por cientistas da Unicamp mostra a importância da medida: manter o afastamento nos próximos 14 dias, por exemplo, representa salvar 5.334 vidas.
A capital fluminense registra 3 mil mortes, o que equivale a 12% do total de óbitos em todo o país. No gráfico epidemiológico, a curva já não sobe tanto, mas continua em patamar estratosférico.
Em meio a essa tragédia, Crivella cogitou até mesmo mudar o critério para a contagem de óbitos. Passariam a ser computados apenas os sepultamentos que tivessem a confirmação da covid-19, não mais os atestados dos hospitais que colocam o coronavírus como provável causa, a ser confirmada com o resultado do exame.
Essa mágica estatística faria sumir dos registros 1.177 mortes. Diante da reação negativa da comunidade científica, a secretária municipal de Saúde voltou atrás. Agora o painel de casos vai registrar tanto a informação do hospital quanto os sepultamentos com confirmação.
A ideia de maquiar os números da covid-19 no Rio surgiu, coincidentemente, depois que Crivella se encontrou com o presidente Bolsonaro, há uma semana. "Diante dos leitos que estamos abrindo e também da diminuição da curva de velocidade de contágio, nós podermos retomar as atividades no Rio", disse o prefeito, após a reunião.
Desde então, repete a bobagem de que o município que o elegeu estaria "dominando" a pandemia e ameaça a todo momento retomar a normalidade das atividades econômicas.
Para agradar àquele que enxerga como patrono de sua reeleição e aos bolsonaristas, Crivella tenta torcer os números e passar a impressão de que o coronavírus perde força em território carioca. É um exemplo histórico de como a politicagem (não se deve chamar isso de política) pode colocar em risco muitas vidas.
A decisão de liberar a atividade de templos, que está em vigor, já é por si só arriscada e deveria ser revista.
Como se não bastasse essa política de Saúde temerária por parte do prefeito, é triste lembrar que a mesma população da outrora Cidade Maravilhosa tem como governador Wilson Witzel, acusado de tantas tramoias com o dinheiro que deveria ter sido destinado ao combate à pandemia.
Como se vê, não está nada fácil ser carioca.
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