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Chico Alves

Ativistas negras têm perfis nas redes sociais atacados por hackers

Carol Sodré - Reprodução Instagram
Carol Sodré Imagem: Reprodução Instagram

Colunista do UOL

30/06/2020 16h59

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Email inválido

Enquanto o movimento antirracista cresce no mundo todo, empurrado pela revolta com o assassinato do norte-americano George Floyd, os racistas tentam impedir esse avanço. No Brasil, ativistas negros que combatem o preconceito nas redes sociais viraram alvo. Além de ataques e ameaças frequentes, pelo menos duas delas tiveram suas contas de Instagram hackeadas.

São casos como o da historiadora carioca Carol Sodré. Depois de constatar que sua conta fora derrubada, ela recebeu um email ameaçador. "Não ouse voltar a falar o que você fala. Vamos dar um jeito de te silenciar de novo", dizia a mensagem.

Carol é formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e faz mestrado na Pontifícia Universidade Católica em "Relações étnico-raciais dentro do ensino de História".

No início da quarentena ela começou a fazer os vídeos no Instagram, falando sobre racismo. Desde os primeiros, já recebia muitos ataques, comentários hostis. "Alguns me ameaçando de morte, dizendo que iam me metralhar na rua. Outros me chamando de professora doutrinadora, até me chamando de preta imunda", conta Carol.

As ofensas partiam de perfis falsos, que não tinham seguidores e nem publicações. Ela denunciou os agressores à plataforma. No domingo 21, resolveu expor a situação em uma live. Dois dias depois, diante do crescimento do número de seguidores, resolveu pedir ao Instagram que seu perfil fosse verificado. Esse tipo de checagem dá mais credibilidade à conta e geralmente faz com que o número de seguidores aumente.

"Na quinta pela manhã, vi a mensagem de um perfil identificado como "Instagram Suporte", dizendo que a verificação tinha sido aprovada e eu deveria clicar no formulário e preencher com alguns dados meus que eles me confirmariam depois de dois dias", relata. Depois que ela clicou, foi encaminhada para o que parecia ser uma página de Facebook — mas era uma cópia. Preencheu o formulário, informou usuário e senha. "Alguns minutos depois, minha conta tinha caído, meu email já tinha sido hackeado", diz ela. Foi então que surgiu a mensagem ameaçadora.

Carol criou um novo perfil e denunciou o caso à polícia e ao Ministério Público Federal. Depois, descobriu que outros ativistas negros vinham sendo atacados da mesma forma.

Em pelo menos mais um caso houve a ação de hackers.

A psicóloga gaúcha Mara Gomes é uma das chamadas "cyberativistas" contra o racismo e usa o Instagram para discutir, entre outros temas, saúde da população negra. "Há duas semanas, dei entrevista a um jornal sobre esse assunto e com a visibilidade passei de 3 mil para 11 mil seguidores", diz ela.

Deu-se o mesmo que tinha acontecido com a historiadora Carol: Mara pediu verificação da conta e acabou caindo em uma armadilha. Ela comunicou à plataforma e fez B.O. online, sem que tenha recebido até agora qualquer retorno da polícia.

Mara Gomes - Reprodução Instagram - Reprodução Instagram
Mara Gomes, psicóloga e ativista antirracista
Imagem: Reprodução Instagram

"O tempo todo estamos sendo silenciados. Então, achamos a internet, que é o único lugar onde podemos falar e mobilizar e as pessoas. Aí surge mais uma forma de silenciamento da gente", lamenta Mara. "Confesso que estou cansada".

Procurado pelo UOL, um porta-voz do Facebook (empresa que é do mesmo grupo do Instagram) respondeu que segurança é uma prioridade da empresa e que possui sistemas capazes de evitar que casos de hacking. Além disso, informou, ajuda os usuários a recuperarem suas contas. "Encorajamos as pessoas a ficarem alertas e não clicarem em links ou aceitarem quaisquer solicitações suspeitas. Ressaltamos que toda a comunicação do Instagram acontece por e-mails, cuja comprovação pode ser feita dentro do próprio aplicativo" .

Apesar dos ataques, Carol não pensa em desistir do ativismo antirracista. "De forma alguma. Me incentiva a seguir com ainda mais força", garante a historiadora.