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Chico Alves

Frias faz um mês à frente da Cultura, afinado com 'ideológicos' do governo

Mário Frias: novo Secretário de Cultura do governo de Jair Bolsonaro - Instagram
Mário Frias: novo Secretário de Cultura do governo de Jair Bolsonaro Imagem: Instagram

Colunista do UOL

19/07/2020 18h23

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Demorou, mas parece que o governo de Jair Bolsonaro finalmente achou o perfil que procurava para encampar sua guerra cultural. Roberto Alvim era ideológico de mais (a ponto de reproduzir discurso nazista) e Regina Duarte era de menos (na verdade, nem se sabe exatamente o que ela pensava). Aparentemente, Mario Frias é o cara. Completa hoje um mês como secretário especial de Cultura cheio de prestígio com o bolsonarismo.

Não que tenha grandes propostas para o setor cultural. Quem visitar sua conta no Twitter, meio de comunicação preferido do governo, vai ver pouco sobre o assunto. A maior parte dos tuítes são de incentivo aos ministros, como Ricardo Salles. Há crítica à "mediocridade de parte da imprensa" e também muita bajulação ao presidente e seu filho 03, o deputado Eduardo Bolsonaro, a quem volta e meia se refere como "irmão".

Para se mostrar afinado, retuita vídeos do site Terça Livre, página investigada por fake news no inquérito do STF, e, como não poderia deixar de ser, defende o uso da hidroxicloroquina contra a covid-19.

Sobre os assuntos relativos à pasta, não foram mais que quatro mensagens nesses 30 dias. No último tuíte desse tipo, reproduz crítica de Eduardo à matéria "Ala ideológica derruba maior especialista em Lei Rouanet", publicada pela revista Veja. Odacir da Costa, o tal especialista, foi exonerado depois que ele assumiu.

"Secretário Frias fazendo o dever de casa. Acabou a farra com a Lei Rouanet", comenta em outra postagem o deputado Carlos Jordy, bolsonarista raiz.

O secretário não se dedica apenas à desconstrução. Negocia com o BNDES um auxílio ao setor de cinemas - e foi elogiado pelos empresários por isso. Também divulgou vídeo falando da importância dos R$ 3 bilhões destinados pelo governo Jair Bolsonaro ao auxílio emergencial para os profissionais de cultura. A autoria da lei que instituiu o benefício é, na verdade, do Congresso. O recurso, agora exaltado pelo secretário como medida muito importante, já foi chamado por ele de "esmola".

Na agenda oficial desse primeiro mês de gestão da secretaria, predominam os "despachos internos" e não há registro de nenhuma reunião com representantes dos artistas. O encaminhamento que Frias pretende dar à política de cultura do Brasil ainda é um mistério.

Mas o grupo bolsonarista pode contar com seu entusiasmo. "Senta o dedo robozada, entrem lá e mostrem sua força", sugeriu, sobre enquete que avaliou a popularidade de Jair Bolsonaro.

Com esses predicados, pode-se dizer que os "ideológicos" do governo, enfim, estão à vontade na Secretaria de Cultura.