Antipetismo de esquerda é obstáculo cada vez maior ao partido de Lula
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Desde 2014, quando as investigações da Operação Lava Jato começaram a vasculhar casos de corrupção ligados aos governos do Partido dos Trabalhadores, integrantes da legenda aprenderam a lidar com a rejeição que chegou ao auge em 2018. Políticos de extrema-direita, direita e centro passaram a tratar o PT como se fosse a única agremiação a ter contra si acusações desse tipo.
Nesse tempo, petistas criaram estratégias e articularam discursos para tentar rebater o rótulo.
Nas eleições municipais desse ano, porém, o sentimento antipetista se revelou forte em meio a antigos aliados da esquerda. Durante a campanha ou depois da votação, o PSB e o PDT em alguns momentos agiram como adversários agressivos.
Mesmo o PSOL, que institucionalmente mantém boas relações com o PT, registra aumento da resistência ao partido de Lula entre militantes e simpatizantes.
Pessebistas e petistas travaram uma disputa selvagem durante a campanha à Prefeitura de Recife. Como se sabe, os ataques foram tão agressivos da parte de João Campos contra Marília Arraes que a aliança entre os dois partidos no governo estadual está ameaçada. A pendenga terá reflexos que vão além da política local.
No PDT, o porta-voz do antipetismo é mais uma vez Ciro Gomes. Mesmo depois de receber apoio do governador Camilo Santana ao vitorioso candidato pedetista à Prefeitura de Fortaleza, o ex-ministro mostrou sua estratégia para os próximos anos ao comentar que o "lulopetismo" e o bolsonarismo foram banidos nas últimas eleições.
A relação com o PSOL ainda é cordial. Cada vez mais, no entanto, o sentido do apoio se inverte. Se antes os psolistas eram sempre vistos como apoiadores potenciais de candidaturas do PT, em duas capitais brasileiras aconteceu o inverso.
Foi assim em Belém, onde o psolista Edmilson Rodrigues elegeu-se prefeito com o apoio petista. Em São Paulo, desde o início da campanha Jilmar Tatto foi pressionado por personalidades de destaque no PT a apoiar Guilherme Boulos. Não cedeu e teve desempenho pífio.
No Rio, onde houve muitos apelos para que os psolistas abandonassem a candidatura própria de Renata Souza para engrossar a campanha de Benedita da Silva, o sentimento anti-PT colaborou para que isso não acontecesse.
Não são poucos os integrantes do PSOL que se mostram incomodados com o que chamam de hegemonismo do partido de Lula, sempre tentando se colocar à frente de qualquer aliança formada na esquerda. Belém seria a exceção que confirma a regra.
Além disso, integrantes do PSOL, que nunca fizeram parte das gestões petistas no governo federal, denunciaram como golpe o impeachment da presidente Dilma Rousseff e lutaram pela libertação de Lula, mas discordam fortemente dos acordos que os dois ex-presidentes fizeram com políticos fisiológicos.
Há entre militantes e simpatizantes psolistas a interpretação de que o PT é uma legenda de métodos ultrapassados que eles não querem repetir.
Essa é uma nova equação que o partido de Lula tem que enfrentar se realmente quiser recuperar parte do terreno perdido.
O antipetismo de esquerda pode se tornar um obstáculo tão grande quanto as dificuldades criadas pela direita.
Os direitistas, aliás, se beneficiarão muito dessa divisão.
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