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Chico Alves

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Pesquisa sobre militares no governo tem más notícias para as Forças Armadas

Oito dos 22 ministros de Bolsonaro são militares, a maior participação das Forças Armadas em um governo desde a redemocratização - Equipe de transição/Rafael Carvalho
Oito dos 22 ministros de Bolsonaro são militares, a maior participação das Forças Armadas em um governo desde a redemocratização Imagem: Equipe de transição/Rafael Carvalho

Colunista do UOL

08/03/2021 14h48

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À primeira vista, a pesquisa divulgada há poucos dias pelo Instituto Paraná sobre "Avaliação da imagem dos militares no governo" traz índices positivos para a turma da caserna. Em muitos temas, o percentual de respostas favoráveis aos representantes verde-oliva são preponderantes. Porém, para uma instituição que nas últimas décadas era tida pela população como a mais confiável, é surpreendente a taxa de manifestações negativas para as Forças Armadas.

A começar pela primeira pergunta: a participação dos militares no governo Bolsonaro é positiva ou negativa? Os que avaliam bem somam 50%, os que avaliam mal, 36,4%.O que parece uma boa notícia para os fardados, não é tanto assim. Basta que apenas 7% dos majoritários mudem de ideia para que a avaliação dos militares passe a ser ruim.

Risco parecido pode ser verificado em três outros temas: se a participação das Forças Armadas no governo de Jair Bolsonaro compromete a imagem dos militares (53,6% dizem que sim e 40,7% respondem que não); se a participação dos fardados compromete o governo (55,1% acham que não, 39,1% acreditam que sim); se o fato de ter mais militares influencia de forma negativa ou positiva na hora de votar (40,3% avaliam positivamente e 34,7% negativamente).

Quem verificar a pesquisa Datafolha de abril de 2019 sobre quais instituições são consideradas mais confiáveis pelos brasileiros vai constatar que as Forças Armadas ganhavam de lavada. Nada menos que 45% dos entrevistados diziam confiar muito no Exército, na Marinha e na Aeronáutica. A avaliação positiva tinha crescido 8% em relação a oito meses antes.

Diante disso, era de se esperar números melhores para o grupo originário da caserna na pesquisa sobre participação no governo.

Procurado pela coluna, Murilo Hidalgo, diretor do Instituto Paraná, confirmou essa impressão. "Não fosse a associação com Bolsonaro, a avaliação dos militares seria muito melhor", afirmou.

O dado mais positivo para as Forças Armadas talvez seja que 62% das pessoas ouvidas acreditam que não há risco de golpe. Apesar disso, à pergunta sobre se com a participação dos militares o governo Bolsonaro se tornou mais autoritário, 49,8% dos entrevistados responderam que sim e 44,8% opinam que não.

Mais à frente, surgem respostas contraditórias a duas questões parecidas. Enquanto 53% dos entrevistados avaliam como positivo o desempenho dos fardados na pandemia (talvez por ter em mente o esforço de soldados e oficiais para levar oxigênio a Manaus, durante o pico da crise), em outro tópico 44,3% dizem que o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello (um general da ativa), teve participação negativa no combate ao coronavírus (32,7% dizem que teve ação positiva).

Nos quartéis, a pesquisa deverá ser analisada com atenção. A turma da caserna tem preparo bastante para saber que os dados, aparentemente favoráveis, são, na verdade, motivo de preocupação.

O representante do Instituto Paraná resume bem o que resulta dessa simbiose entre militares e governo federal: "O único que sai ganhando é Bolsonaro", diz Murilo Hidalgo.