Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Alguém ainda duvida que Bolsonaro e os bolsonaristas querem a guerra?
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O Brasil amanheceu hoje, como em dias anteriores, com duas certezas. A primeira é que chegaremos ao anoitecer contabilizando mais de duas mil mortes causadas pela covid-19. A segunda é que o presidente Jair Bolsonaro, alheio ao drama de falta de leitos de UTIs nos hospitais, fará algum novo movimento para incendiar seus apoiadores contra os governadores e prefeitos que tentam conter o avanço da pandemia com medidas restritivas.
Nesse momento trágico, em que deveria chamar a união de forças, Bolsonaro só pensa em desunião, em estabelecer confrontos. Não se trata apenas de guerra retórica. A cada dia o presidente dá sinais de que pretende estabelecer um embate real contra as instituições.
No discurso que fez aos apoiadores, ontem, na comemoração de seu aniversário, em Brasília, criticou "tiranetes ou tiranos" que tolhem a liberdade, referindo-se aos governantes que tentam reduzir a circulação nos estados e municípios para evitar a propagação do vírus.
"Podem ter certeza, o nosso Exército é o verde-oliva e é vocês também", bradou Bolsonaro à sua claque. Soltou outras frases de exortação ao confronto, como "Estão esticando a corda", "Faço qualquer coisa pelo meu povo", "Nós vamos vencer essa batalha".
E, claro, não poderia esquecer do imaginário perigo vermelho com que assusta os desinformados cuja única leitura são os grupos de WhatsApp: "Não queremos que o Brasil mergulhe no socialismo".
Enquanto Bolsonaro gritava sua delirante ordem do dia em Brasília, bolsonaristas fardados marchavam no Rio, à frente da casa do aniversariante. Identificando-se como reservistas das Forças Armadas, saudaram seu ídolo.
Como se não fosse suficientemente preocupante a parada de fanáticos fardados, que se diziam paraquedistas, em um dos vídeos o tom foi ainda mais ameaçador.
"Aí pessoal da canhota, do lado esquerdo, quer dizer que vocês quer (sic) impeachment? Vocês quer (sic) derrubar o nosso presidente. Deixa eu falar um negocinho pra vocês, ó, ele não tá sozinho não", diz um homem de boina vermelha, enquanto mostra com a câmera do celular o grupo de dezenas de outros como ele. "Junta o que vocês tiver (sic) de melhor e tenta".
Tudo isso é claramente um desvario. Generais da reserva ouvidos pela coluna ironizaram o grupo, usando termos como "coisa de doido", "fanatizados" e "fanfarronice".
O próprio Comando Militar do Leste, em resposta a questionamento da TV Globo, esclareceu que "não há relação da instituição com o evento citado, que o Exército Brasileiro não compactua com qualquer tipo de conduta ilícita por parte de seus integrantes, e que repudia veementemente atitudes e comportamentos em conflito com a lei, com os valores militares e a ética castrense".
Apesar disso, é difícil prever a extensão dos prejuízos que figuras desse tipo, espalhadas por todo o país e incentivados pela mente conturbada de Jair Bolsonaro, podem causar ao trabalho de governadores e prefeitos que tentam fazer valer as medidas restritivas até que a lenta vacinação surta algum efeito.
Insensível, a minoria barulhenta sonha em implantar o caos, sob os auspícios daquele que deveria estar exclusivamente preocupado em salvar vidas.
No momento mais crítico de sua história, às voltas com uma tragédia sanitária sem precedente, os brasileiros têm muitas dúvidas. Mas, além das duas certezas citadas no início desse texto, têm uma terceira: não podem contar com o presidente da República para sair dessa.
Jair Bolsonaro está muito ocupado com sua guerra particular.
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