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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Pedido de habeas corpus só piora a situação de Pazuello e do governo

5.mar.2021 - Ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello - Tarla Wolski/Futura Press/Estadão Conteúdo
5.mar.2021 - Ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello Imagem: Tarla Wolski/Futura Press/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

14/05/2021 04h00

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O pedido de habeas corpus preventivo feito pela Advocacia-Geral da União em favor do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, para que se mantenha calado na CPI da Covid, é uma saraivada de balas do governo nos próprios sapatos. Caso o ministro Ricardo Lewandovski, do Supremo Tribunal Federal, conceda o benefício, as imagens resultantes dessa iniciativa serão desastrosas para o presidente Jair Bolsonaro e sua equipe.

É fácil prever a enxurrada de vídeos circulando nas redes sociais com Pazuello caladão diante dos questionamentos dos senadores da CPI. Difícil é calcular o prejuízo isso poderá causar.

"Por que o senhor não respondeu ao oferecimento de vacinas feito pela Pfizer em setembro?".

"Qual a base científica para sugerir utilização de cloroquina para tratamento contra a covid-19, como o senhor fez?".

"Por qual motivo milhões de testes para detecção de coronavírus não foram distribuídos pelo ministério?".

Pazuello não terá nada a ganhar caso responda a questões como essas com o silêncio, enquanto as câmeras mostram ao Brasil sua expressão constrangida.

Qualquer um que esteja ou tenha exercido função pública não pode fugir à obrigação de prestar contas do seu trabalho. Quando se trata de uma pandemia que causou 430 mil mortes, então, essa responsabilidade se multiplica. Um ex-ministro da Saúde que não responde por seus atos em momento tão grave aumenta as suspeitas de que tenha culpa no cartório.

Mesmo que o STF rejeite o habeas corpus, o simples fato de a AGU ter recorrido a esse expediente já é bastante comprometedor.

Outro ingrediente é o fato de Pazuello ser um general da ativa.

É sabido que ele estará na CPI para responder pela função civil que desempenhou. Mas tanto as credenciais que o levaram ao ministério, quanto seu estilo de obediência a qualquer custo nos fazem lembrar da caserna. Essa insistência do general em escapar à comissão não deve estar agradando em nada os colegas de quartel.

A surrada máxima segundo a qual "quem não deve, não teme" é praticamente incontornável para se referir ao episódio. O enorme temor que Pazuello demonstra de responder às perguntas dos senadores poderá levar muita gente a concluir que ele deve bem mais do que se imaginava.

Caso esse roteiro seja transmitido pela TV a milhões de brasileiros, não será nada bom para Pazuello. E será péssimo para o governo Bolsonaro.