Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Pedido de investigação de Toffoli acontece em meio a turbulência na PF
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O pedido de investigação do ministro do Supremo Tribunal Federal Dias Toffoli, feito pela Polícia Federal à própria Corte, é parte do xadrez institucional que está sendo jogado dentro do órgão. A suspeita, baseada na delação do ex-governador Sérgio Cabral e em outros elementos, é que Toffoli teria favorecido dois prefeitos fluminenses em ações judiciais em troca de propina. Através da assessoria, o ministro negou envolvimento no caso.
O movimento acontece em meio a resistência de boa parte dos delegados e agentes a uma suposta interferência política do presidente Jair Bolsonaro na PF, denunciada no ano passado pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro. Ouvidos pela coluna em condição de anonimato, alguns policiais avaliam o inédito pedido de investigação feito pelo delegado Bernardo Guidali do Amaral como uma espécie de "teste" para verificar até que ponto vai essa ingerência.
O fato de Maiurino ser ligado a Toffoli, por ter ocupado a chefia de segurança do STF quando o ministro presidiu o tribunal, é tido como um dos possíveis motivos desse movimento ousado. Além disso, Toffoli é, depois de Kássio Marques, o ministro do Supremo que tem melhor interlocução com o presidente da República.
Outros agentes, porém, avaliam que Amaral é um delegado novo e que costuma se ater ao que considera tecnicamente adequado, sem fazer cálculos políticos. O pedido de investigação seria baseado em vários outros elementos além da delação de Cabral. Um dos colaboradores preferiu falar somente depois que Toffoli deixou a presidência do Supremo.
O pedido de abertura de inquérito foi enviado a Edson Fachin na semana passada e o ministro o encaminhou à Procuradoria-Geral da República para que se manifeste.
O diretor-geral só tomou conhecimento do fato quando tudo já estava consumado - o que o deixou bastante irritado.
Por tudo isso, o clima na PF é hoje de alta tensão.
Para alguns, uma possível rejeição do pedido por parte da PGR poderia acarretar alguma mudança no Serviço de Inquéritos — ou Sinq, como é conhecido o setor de Amaral.
Não é a primeira vez que o delegado executa movimento controverso. Em junho de 2019, ele pediu a prisão temporária da ex-presidente Dilma Rousseff, do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, do ministro do Tribunal de Contas da União Vital do Rêgo, dos ex-senadores Eunício Oliveira e Valdir Raupp, além de mais cinco pessoas no inquérito que apura se a JBS fez doações ilícitas a aliados do PT nas eleições de 2014.
Na época, o pedido foi negado pelo ministro Fachin. Dilma repudiou a atitude de Amaral e culpou Sergio Moro, ministro da Justiça de então e responsável pela PF, por persegui-la.
Feito à revelia da cúpula do órgão, o pedido de investigação de Toffoli representa desgaste para o diretor-geral e para o próprio ministro da Justiça, Anderson Torres.
Porém, se o destino do pedido for a lata do lixo, o delegado Amaral e o próprio Sinq ficarão em situação difícil. O setor é composto por seis delegados que tratam de casos delicados, cujos protagonistas são políticos de alto escalão e outros figurões. Esse pequeno núcleo terá atraído contra si a ira do STF, do governo, da direção da PF e de investigados com grande poder de influência. O desfecho dificilmente será suave.
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