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Chico Alves

REPORTAGEM

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Organizador compara ato pró-Bolsonaro a 'churrasco', para defender Pazuello

No ato, Waldir Ferraz (de camisa branca de mangas curtas) apareceu ao lado de Pazuello e Bolsonaro  - ANDRE BORGES / AFP
No ato, Waldir Ferraz (de camisa branca de mangas curtas) apareceu ao lado de Pazuello e Bolsonaro Imagem: ANDRE BORGES / AFP

Colunista do UOL

26/05/2021 04h00

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Jair Bolsonaro recebeu ontem a ligação de um velho conhecido. Organizador da 'motociata' que reuniu no domingo, 23, no Rio, milhares de motociclistas em apoio ao presidente da República, Waldir Ferraz telefonou para dar argumentos que considera suficientes para evitar a punição do general Eduardo Pazuello pelo comando do Exército, por ter participado do ato.

"Lembrei ao Bolsonaro que aquilo não foi movimento político", contou Waldir à coluna. "Qual partido organizou? Tem que dizer. Eles não vão poder punir o cara, aquilo era uma festa, não tinha nenhuma bandeira a não ser a do Brasil".

No entanto, o regulamento das Forças Armadas veta a participação de militares não apenas em manifestações partidárias, mas em qualquer mobilização de apoio ou repúdio a governos.

Principal articulador da 'motociata', velho amigo de Bolsonaro e sua família, Waldir — que também é conhecido pelo apelido de Jacaré — explica que orientou a todos os motociclistas para não fazerem propaganda partidária.

"Falei: nada de 'fora STF', isso é um passeio de motocicleta", diz ele. "Avisei que se tivesse qualquer manifestação política iria botar pra fora, por isso não teve". Compara a 'motociata' a uma comemoração particular: "É como se eu estivesse dando churrasco na minha casa e convidasse geral".

Waldir estava bem ao lado de Pazuello e Bolsonaro, bem na hora em que o general da ativa falou ao público, sem máscara. Por isso, aparece em todos os vídeos veiculados na imprensa e nas redes sociais.

Poucos minutos antes, estava batendo papo com o oficial no alto do carro de som. "Eu elogiei ele. Disse: 'cara, você matou a CPI no primeiro dia de depoimento. Quando falou o currículo, embolsou todos aqueles que estavam interrogando'", recorda. "Queria ver nos tempos bons (refere-se à ditadura militar) eles convidarem um Newton Cruz (general que chefiou o Serviço Nacional de Informação nos anos 1980), um Figueiredo (João Figueiredo, último presidente do regime militar) para ser inquirido. Todo mundo estaria em cana".

Amigo de Bolsonaro há décadas, Waldir, de 67 anos, já cumpriu várias funções para o presidente e seus familiares - de segurança a motorista. Mesmo com a chegada ao Planalto, manteve o livre acesso.

Nas últimas eleições municipais, se candidatou a vereador com o apoio do presidente mas não se elegeu: teve apenas 546 votos. Hoje tem o cargo de assessor na Secretaria de Estado de Planejamento, no governo Cláudio Castro (PSC).

Waldir Ferraz, à frente da 'motociata' realizada no Rio - Divulgação - Divulgação
Waldir Ferraz, à frente da 'motociata' realizada no Rio
Imagem: Divulgação

Pelas contas de Waldir, a 'motociata' teve a participação de 45 mil motocicletas. Baseia a estimativa estratosférica na informação que recebeu de que Bolsonaro já tinha encerrado sua participação no ato, no Aterro do Flamengo, e o fim do cortejo de motoqueiros ainda estava no Leblon, a cerca de 30 quilômetros.

A ideia de fazer a manifestação no Rio surgiu depois do passeio de motos que Bolsonaro fez em Brasília. O presidente perguntou a Waldir o que achava de organizar algo parecido e ele topou.

Seria manifestação apenas para os motoqueiros do Rio, mas as mensagens se espalharam e veio gente de todo o Brasil, segundo ele. "Até de Roraima", destaca. "A organização foi 'a colhão' (improvisada). Liguei para meia dúzia de motoclubes, que ficaram encantados", conta. "As notas na imprensa e a live do presidente ajudaram a divulgar".

Waldir agora pretende aproveitar a projeção que teve com a divulgação das imagens no carro de som, ao lado de Pazuello e do presidente, para tentar novamente concorrer a cargo eletivo. Quer se candidatar a deputado federal nas eleições do ano que vem.

Justifica a decisão, sorrindo: "Depois dessa propaganda de graça, você quer o quê?".