Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
A diferença entre Braga Netto e Fernando Azevedo, o general que disse 'não'
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Nos últimos anos, as trajetórias dos generais Walter Braga Netto e Fernando Azevedo e Silva estiveram bem próximas. Ambos aceitaram fazer parte do núcleo duro do governo de Jair Bolsonaro. Por mais de dois anos, Braga Netto ocupou a Casa Civil. No mesmo período, Azevedo e Silva comandou o Ministério da Defesa. Saiu em março e foi sucedido por Braga Netto.
Ao cometerem o desatino de embarcar no governo de alguém tão desqualificado quanto Bolsonaro, a ideia inicial seria que os dois generais recorressem à camaradagem da caserna para manter sob controle o presidente, conhecido pelo temperamento difícil. No decorrer do governo, no entanto, deu-se o contrário: Braga Netto e Azevedo e Silva foram "bolsonarizados" pelo presidente.
Vários desatinos do chefe do governo tiveram a companhia desse par de oficiais. Eles estavam ao lado de Bolsonaro em várias micaretas antidemocráticas que pediam o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF).
Azevedo e Silva foi além. Estava junto do presidente da República na aeronave que em maio de 2020 sobrevoou a Praça dos Três Poderes no momento em que uma dessas manifestações juntava lunáticos para clamar por intervenção militar. Foi seu maior erro.
Depois da repercussão negativa do passeio aéreo, o ministro da Defesa da época foi-se tornando cada vez mais discreto. Mesmo contra a vontade de Bolsonaro, que o incitava a colaborar com a vinculação de sua imagem às Forças Armadas, submergiu.
Nesse período, Fernando Azevedo e Silva disse alguns "nãos" ao presidente. A negativa crucial, no entanto, foi revelada pela jornalista Malu Gaspar, do jornal O Globo: em março do ano passado, Bolsonaro queria fazer uma demonstração de força semelhante a que aconteceu hoje.
O comandante do Exército da época, general Edson Pujol, negou-se a obedecer essa ordem disparatada. Azevedo e Silva bancou a decisão. Como se sabe, foi defenestrado. Também Pujol e os comandantes da Marinha e da Aeronáutica foram trocados.
Na cordial nota de despedida do cargo de ministro da Defesa, Azevedo e Silva observou: "Nesse período, preservei as Forças Armadas como instituições de Estado".
Em seu lugar, assumiu Walter Braga Netto.
Desde então, Bolsonaro passou a ter o parceiro ideal para tentar materializar seus desvarios autoritários. Pitacos sobre voto impresso, ameaças à realização de eleições, reprimendas à CPI da Covid, todas essas aberrações tiveram participação de Braga Netto.
O auge deu-se hoje.
O atual ministro da Defesa fez o que seu antecessor teve a hombridade de negar. Foi um dos principais responsáveis pelo maior vexame que as Forças Armadas passaram desde a redemocratização.
Na frase final da nota de despedida da pasta da Defesa, Fernando Azevedo e Silva escreveu: "Saio na certeza da missão cumprida". Na missão de manter a salvo a respeitabilidade das Forças Armadas, seu principal gesto foi recusar a parada fora de época proposta por Bolsonaro.
Com Braga Netto foi diferente. Passando por cima do princípio militar segundo o qual ordem absurda não deve ser cumprida, o atual ministro da Defesa só diz "sim" às sandices do presidente. O desfile de hoje foi o ponto alto dessa submissão.
De casa, de onde observou a lamentável exibição, Fernando Azevedo e Silva deve ter ficado ainda mais convicto que sua maior colaboração às forças que tanto respeita pode ser resumida em uma pequena palavra: "não".
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.