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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Contra STF, generais bolsonaristas se aliam a dois maus militares

O presidente Jair Bolsonaro e o deputado federal Daniel Silveira  - Reprodução/Facebook Daniel Silveira
O presidente Jair Bolsonaro e o deputado federal Daniel Silveira Imagem: Reprodução/Facebook Daniel Silveira

Colunista do UOL

23/04/2022 08h45

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A afronta de Jair Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF), concedendo indulto a uma figura como Daniel Silveira, condenado pelos ministros pelo placar de 10 x 1, recebeu aval dos generais da reserva que se tornaram fanáticos pelo presidente. Segundo algumas fontes, também alguns generais da ativa aprovaram o desatino presidencial.

A verdade é que mesmo antes de Bolsonaro iniciar sua campanha contra o Supremo, a principal instância do Judiciário brasileiro já era vista como inimiga pelos militares. O maior motivo de ressentimento é o fato de o STF ter aprovado em 2010 a criação da Comissão Nacional da Verdade, que investigou e trouxe à luz vários crimes praticados pela ditadura implantada no Brasil com o golpe de 1964.

Para os oficiais das Forças Armadas, o assunto já estava sepultado pela Lei de Anistia, e foi visto como ato de revanchismo dos governos petistas com o apoio do Supremo. Desde então, em qualquer roda de conversa das altas patentes podem ser ouvidos os xingamentos mais cabeludos aos ministros da corte. Instalou-se um consenso contra o STF que Bolsonaro passou a vocalizar.

Na crise atual, apoiam os ataques do presidente os generais da reserva que atuam como ministros, os oficiais de pijama do Clube Militar e alguns generais da ativa. Consideram que foi o Supremo que começou a queda de braço institucional, com decisões que teriam interferido indevidamente no governo.

Com essa interpretação deformada dos fatos, os generais bolsonaristas deixam o proclamado apreço à disciplina de lado para se colocar ao lado de dois maus militares.

O primeiro é o próprio deputado e ex-PM Daniel Silveira. Sua carreira de policial é lamentável. Como mostrou reportagem do SBT, a ficha de Silveira na corporação registra nada menos que 60 punições disciplinares de 2013 a 2017.

O histórico como PM registra 26 dias de prisão, 54 dias de detenção, 14 repreensões e duas advertências, "ficando cristalina sua inadequação ao serviço policial militar, mesmo tendo recebido inúmeras oportunidades, confirmando ineficiência do caráter educativo".

As molecagens que comete agora como deputado, xingando e ameaçando ministros do Supremo, são apenas continuações das arruaças que praticava nos tempos de farda.

O outro indisciplinado a quem os generais bolsonaristas apoiam é o próprio presidente da República.

Relatório feito pelo Exército, na década de 1980, atesta isso. O superior de Bolsonaro na época, coronel Carlos Alfredo Pellegrino, escreveu que ele "tinha permanentemente a intenção de liderar os oficiais subalternos, no que foi sempre repelido, tanto em razão do tratamento agressivo dispensado a seus camaradas, como pela falta de lógica, racionalidade e equilíbrio na apresentação de seus argumentos". Como se vê, continua o mesmo.

Além disso, em 1987 admitiu à revista Veja que na campanha por melhores soldos planejava detonar explosivos de reduzida potência em banheiros da Vila Militar, da Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende, e em alguns outros quartéis militares com o objetivo de protestar contra o baixo salário que os militares recebiam na época. Também pensava em colocar uma bomba na Adutora do Guandu, que abastece de água o município do Rio de Janeiro.

Bolsonaro foi a julgamento no Tribunal Superior Militar e negou ter dado tais informações. Foi absolvido, mas ao mesmo tempo mandado para a reserva.

Esse comportamento nos tempos da caserna levou o ex-presidente da ditadura, general Ernesto Geisel, a classificá-lo em 1983 como "mau militar".

É a irresponsabilidade desses dois personagens que alguns integrantes das Forças Armadas agora decidem apoiar.

Certamente há generais de bom senso, que condenam o golpismo bolsonarista e o mau conceito que o presidente atual transfere para os militares.

Alguns da reserva, volta e meia expressam suas críticas. Os da ativa precisam manter o silêncio, por dever profissional. Mas, dentro de suas atribuições, espera-se que façam o que estiver ao seu alcance para provar que as Forças Armadas são diferentes do que os ministros militares de Bolsonaro e o boquirroto presidente do Clube Militar querem fazer parecer.

Ou então, para os brasileiros, a palavra democracia perderá completamente o significado.