Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Molecagens fizeram de Daniel Silveira uma subcelebridade política
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Houve um tempo em que a fama era reservada para pessoas que faziam algo realmente importante. Pesquisadores que revolucionavam a ciência, autores de clássicos da literatura, políticos responsáveis por leis relevantes — era esse tipo de figura que chegava à fama. Hoje, basta um BBB, uma dancinha no Tik Tok ou uma molecagem contra as instituições para se tornar conhecido.
Daniel Silveira, o deputado que ontem foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal, se enquadra no último caso.
Na campanha de 2018, o ex-PM apareceu no noticiário por ter quebrado uma placa em homenagem à vereadora Marielle Franco, assassinada naquele ano. Na foto, ele sorria ao lado de um candidato que se elegeu deputado estadual e de Wilson Witzel, que se elegeu governador do Rio.
O próprio Silveira confirmou o poder que as molecagens podem ter para ganhar votos, ao conquistar uma vaga na Câmara dos Deputados.
Resolveu então seguir o mesmo caminho performático de outros políticos bolsonaristas e dedicou seu mandato a produzir bravatas, desqualificar adversários e desafiar o STF.
Tornou-se útil à estratégia bolsonarista de atacar o Supremo, ao se dirigir com ameaças e palavrões aos ministros Alexandre de Moraes e Edson Fachin. Acabou preso, passou a cumprir prisão domiciliar, mas não se emendou.
Recentemente, voltou a desafiar Moraes dizendo que não usaria tornozeleira eletrônica. Cogitou entrincheirar-se na Câmara para evitar cumprir a decisão judicial, mas acabou cedendo.
Para arrematar a coleção de afrontas, horas antes do julgamento de ontem Silveira chamou Moraes de "canalha" e tentou entrar no plenário do STF junto de seu parceiro, o deputado Eduardo Bolsonaro ( PL-SP), outro que é dado a molecagens. Foi impedido.
É com esse comportamento irresponsável que o deputado marombado se destaca junto ao seu eleitorado. O rendimento parlamentar é pífio, o desempenho nas sessões é ridículo, a ponto de muitas vezes arrancar gargalhadas de seus pares. Só tem bravatas a oferecer.
No Congresso que já teve Ulysses Guimarães, Teotônio Vilela, Abdias Nascimento, Mário Covas e outros parlamentares de alta qualidade, é uma lástima constatar que os eleitores escolham deputados do naipe de Silveira.
Os primeiros merecem ser lembrados como celebridades. Este último nada mais é que um espécime dessa nova tribo política, a de subcelebridades.
Como alento, é bom lembrar que esses personagens ocupam o noticiário por algum tempo, mas acabam voltando ao ostracismo.
Que o julgamento do STF tenha sobre o deputado fortão o mesmo efeito de um paredão do BBB. Após a eliminação, as subcelebridades fazem ainda algum barulho, mas a maioria delas acaba voltando ao silêncio absoluto de onde nunca deveriam ter saído.
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