Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Não é 13 de maio o marco da Abolição, mas o dia seguinte
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Depois de mergulhar a pena no tinteiro e levá-la ao papel para assinar a Lei Áurea, a princesa Isabel entrou para a história como a redentora dos escravos. Aquele ato, consumado há 134 anos, marcou no calendário a data que por muito tempo simbolizou a liberdade dos negros brasileiros. Livros escolares, imprensa e discursos fixaram na cabeça dos brasileiros esse mítico 13 de maio.
O genial Lima Barreto relata no conto "Maio" a lembrança daquele dia. Seu pai o levou ao Largo do Paço, no Centro do Rio, para se juntar à multidão que acompanhou a assinatura de Isabel. "Fazia sol e o dia estava claro. Jamais, na minha vida, vi tanta alegria. Era geral, era total".
Das intenções descritas nas leis à vida de verdade, como se sabe, há sempre uma grande distância. Não foi, portanto, aquele momento histórico que determinou a realidade das pessoas que finalmente se livraram do cativeiro. O dia seguinte, esse sim, indicou como viveriam as próximas gerações de negros livres.
Deixaram de ser escravos, mas não foram integrados à sociedade. Não tinham os mesmos direitos, não tinham os mesmos empregos, não tinham a mesma educação, não tinham a mesma renda.
Não têm até hoje.
Como traduziram na música "14 de Maio" os compositores baianos Jorge Portugal e Lazzo Matumbi: "No dia 14 de maio, eu saí por aí / Não tinha trabalho, nem casa, nem pra onde ir / Levando a senzala na alma, eu subi a favela / Pensando em um dia descer, mas eu nunca desci".
Segundo a definição do antropólogo Hélio Santos, esse é "o dia mais longo da história do Brasil". O descaso a que foi submetida essa importante parcela da população brasileira desde então determinou a sociedade racista que somos hoje.
A consciência negra, que tem crescido muito nos últimos tempos, buscou nova data para marcar a luta por igualdade: o 20 de novembro, quando teria morrido Zumbi dos Palmares. Mas ainda falta muito.
Não importa a cor da sua pele, a marginalização forçada desde o dia 14 de maio de 1888 é algo a ser combatido com prioridade.
Não há nada mais urgente em um país com índices tão vergonhosos de exclusão do povo preto e comandado por um presidente racista, que não vê problema algum em perguntar a um homem negro qual o seu peso em arrobas,
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