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Chico Alves

REPORTAGEM

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Cresce interesse pelo marxismo, diz youtuber que quer ser governador de PE

O historiador pernambucano Jones Manoel - Divulgação
O historiador pernambucano Jones Manoel Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

14/05/2022 04h00

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Desde que o bolsonarismo surgiu, em 2018, um dos pontos fortes do fenômeno é o sentimento de anticomunismo, que espalhou por significativas parcelas da sociedade. Para alguns, a visão sobre os comunistas regrediu ao nível de demonização verificado na ditadura militar, como se nas últimas décadas eles não tivessem sido eleitos para mandatos de vereador, deputado, governador e um deles até chefiado o Ministério da Defesa ( Aldo Rebelo). Nesse contexto aparentemente hostil, o youtuber e professor marxista Jones Manoel, um dos destaques de audiência nas redes, decidiu ser pré-candidato a governador de Pernambuco pelo PCB.

O youtuber relaciona o início da atual onda reacionária com a crise econômica mundial de 2008."Dali em diante a máquina de propaganda do anticomunismo foi lubrificada, algo que se misturou à ascensão da China. Isso chegou ao Brasil em 2016", analisa. Paralelamente, porém, ele chama atenção para o movimento inverso: "Há um crescimento do interesse pelo pensamento marxista, especialmente na juventude ".

O próprio Jones é o melhor exemplo disso. Tornou-se um dos principais nomes na divulgação do marxismo no Brasil, com 560 mil seguidores nas quatro maiores plataformas das redes sociais.

Professor de História e autor de livros sobre o tema, trava complexa discussão teórica com jovens internautas, em vídeos com linguagem acadêmica e visual hipster - é frequentador de academias de ginástica e usa cabelo black. Também é admirado por importantes figuras de outras gerações, como Caetano Veloso, que depois de uma entrevista fez elogios rasgados a ele.

"Há uma busca maior sobre o que é o marxismo e o que foram as experiências socialistas do século 20", acredita Jones. "A minha geração está revisando o balanço segundo o qual a queda do Muro de Berlim representou o fracasso do comunismo".

A pré-campanha cria conexão com setores com os quais o PCB não tem diálogo nenhum ou muito pouco. Um indício desse movimento é o aumento de entrevistas que movimentam a agenda de Jones — nos últimos tempos, duas por dia —e o tipo de público alcançado.

"Tenho recebido convite para entrevistas em rádios do interior em que nunca imaginei que iria ter esse espaço. Ontem, estive na cidade de Betânia debatendo por uma hora sobre reforma agrária, falta d'água e transporte", conta. "Antes, nunca tinha estado em Betânia, não temos militantes do partido por lá".

A plataforma é típica de um comunista. Promete ruptura com o sistema oligárquico da política pernambucana; abrir espaço no governo para a participação efetiva do trabalhador e dos setores organizados da sociedade, inclusive no orçamento; universalizar os direitos sociais e acabar com as isenções fiscais para as grandes empresas.

Também garante que se for eleito vai mudar o nome da sede do governo de Palácio das Princesas para Casa Gregório Bezerra, nome do importante dirigente do PCB e ex-deputado, morto em 1983.

No plano nacional, apoia a pré-candidata do PCB à Presidência, Sofia Manzano. Não concorda que seja essencial votar em Lula no primeiro turno para evitar o bolsonarismo. "Para derrotar Bolsonaro é fundamental tirar voto dele. Quem vota em qualquer um que não seja Bolsonaro está ajudando a derrotá-lo", afirma.

Jones diz que sua candidatura vai ajudar a resgatar uma importante característica pernambucana. "Aqui é a terra do cangaço, do mangue beat, do Quilombo dos Palmares, das Ligas Camponesas. Pernambuco vai voltar a ser referência nacional de rebeldia e luta", promete. "Vamos dar colaboração central para revogar as reformas que prejudicaram o trabalhador e criar a revolução brasileira".

A tarefa não será fácil, principalmente levando-se em conta as mais recentes pesquisas de intenção de voto, em que Jones Manoel aparece em último lugar, com apenas 1,5% no melhor cenário.

Ele diz que a pré-candidatura é pra valer, não apenas simbólica, mas cria para o PCB uma excelente oportunidade . "Quero conversar com setores da sociedade que não estão organizados e não têm experiência política", planeja. "Vamos atrair para o movimento comunista apresentando propostas concretas para mudar sua vida, sempre de uma forma radical".

Veja a entrevista completa em vídeo aqui