Topo

Chico Alves

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Após discussão, Glauber Braga critica ameaças de Arthur Lira: 'Ditador'

Colunista do UOL

01/06/2022 07h25

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

A decisão do presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), de fazer avançar na Casa o projeto que tira do governo federal o controle acionário da Petrobras foi o estopim da discussão com o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), na noite de ontem. Braga revoltou-se contra a forma sumária e repentina com que Lira quer tratar de tema tão relevante e foi ao microfone para confrontá-lo com palavras duras.

O presidente da Câmara ameaçou tirar o psolista do plenário e disse que levaria o caso ao Conselho de Ética.

Em entrevista à coluna, Braga diz que encara a fala de Lira como uma ameaça, mas que não se intimida. Reiterou que o deputado alagoano tem comportamento de ditador e que ele sabe que tirar o governo do controle acionário da Petrobras não vai fazer baixar o preço dos combustíveis. "É um mentiroso", diz o parlamentar fluminense.


UOL - Qual foi o motivo da discussão entre o sr. e Arthur Lira?

Glauber Braga - O Lira está articulando para colocar um projeto no plenário da Câmara de entrega do controle acionário da Petrobras. E isso vai acontecer, ele vai fazer isso. Lira já está preparando e deu declarações em várias rádios sobre isso. No final das contas é uma privatização de fato, né?

Eu perguntei no microfone se ele não tinha vergonha e aí ele nem deixou completar o raciocínio. Cortou o microfone e a confusão se instalou. Ele disse que pretende que eu não esteja mais lá na próxima legislatura, falou que vai entrar no Conselho de Ética. Aí chegou ao ponto máximo que foi ameaçar me tirar à força porque eu não aceitei ele cortar o microfone.

Quando fui interrompido, ia perguntar se ele não tinha vergonha de propor a privatização da Petrobras em pleno ano de 2022, em uma votação por maioria simples, no plenário da Câmara. Entregar o patrimônio brasileiro, que é um crime de lesa-pátria.

Como o sr. recebe a promessa de que pode ser retirado do plenário se Lira decidir?

Não vai me intimidar com isso. Ele está querendo entregar tudo a essa turma que está lucrando com privatizações. Não vou recuar por causa dessas ameaças. Se meu mandato não vale para fazer esses enfrentamentos, ele não vale pra coisa nenhuma.

Lira insinuou que iria trabalhar pela minha cassação no Conselho de Ética. Disse que eu agora sou deputado, mas amanhã posso não ser. É uma ameaça gigante.

A quem se insurge, a quem se levanta contra, ele ameaça com cassação e com a força mais bruta, que é essa história de tirar do plenário. Quando disse que me tiraria dali à força, eu reagi dizendo que queria ver isso acontecer.

Ele o tempo inteiro trabalha toda a organização das sessões como um jogo de cartas marcadas sempre para prevalecer as suas posições já pré-estabelecidas. É comportamento típico de um ditador.

Como o sr. avalia essa iniciativa de tirar o controle acionário do governo da Petrobras? Acha que isso vai passar na Câmara?

Eu acho que tem que ter uma grande mobilização popular para que não aconteça, para demonstrar que esse tipo de votação não vai acontecer de maneira banal. Tem que ter mobilização fora da Câmara contra isso, porque se não for assim ele passa o rolo compressor.

Essa proposta é um absurdo total . Você faz com que todos os investimentos, ganhos da companhia e a possibilidade da geração de recurso do petróleo para o futuro do Brasil, inclusive em termos de educação, passe a ser gerido por uma lógica de natureza privatista predadora.

O Brasil, a partir do momento que entrega o controle da sua maior empresa de petróleo, deixa nas mãos dessas grandes corporações privadas qualquer planejamento ou ausência de planejamento do seu desenvolvimento futuro. País nenhum do mundo está fazendo isso, pelo contrário. Todo mundo está de olho no pré-sal brasileiro, evidentemente, né?

O resultado de uma entrega do controle é que essa política de Paridade de Preço de Importação, que garante direito de importadores de combustíveis e que garante lucratividade exorbitante dos importadores de combustíveis, passa a ser permanente.

Faz sentido dizer que entregar o controle acionário da Petrobras vai fazer baixar o preço dos combustíveis?

Nenhuma lógica. E ele (Arthur Lira) sabe disso. É um mentiroso. É exatamente o contrário.