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'Onde estão Bruno e Dom?' e outras perguntas doloridas do Brasil
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Nos últimos anos, o Brasil virou um país de perguntas sem resposta. Não perguntas quaisquer, mas interrogações dramáticas, que doem muito. São tragédias pessoais, sociais e políticas que surgem por todos os lados e, na falta de ações que as solucionem, resta apenas ao brasileiro atônito lançar as perguntas no ar, sem ter quem dê conta delas.
A questão atual, que ecoa no Brasil e em vários países, é saber o paradeiro do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, desaparecidos há seis dias no Vale do Javari, na Amazônia. Diante da demora das autoridades governamentais em mobilizar para as buscas contingente adequado e do desrespeito do presidente da República, que classificou o trabalho dos dois como "aventura", as perspectivas não são boas.
A própria mulher do jornalista, a brasileira Alessandra Sampaio, se refere ao marido usando os verbos no tempo pretérito. "Ele encontrava Deus na natureza. Então, se ele partiu ali, ele estava no meio do Deus que ele acreditava, sabe?", desabafou, em entrevista ao Jornal Nacional.
A área que deveria ser conhecida apenas como um paraíso da biodiversidade sob a guarda dos indígenas tornou-se território sem lei, aberto à ação de garimpeiros, narcotraficantes, pescadores, contrabandistas de madeira e outros criminosos. O governo de Jair Bolsonaro ampliou o abandono e facilitou o banditismo na região, reduzindo os recursos dos órgãos encarregados de vigiar e punir os invasores. Por denunciar essa situação, o indigenista e o jornalista inglês estavam sob ameaça.
Por agora, cabe a todos repetir exaustivamente a cobrança: "Onde estão Bruno e Dom?", mesmo que indícios recentes sinalizem que o caso pode não ter um bom desfecho.
Enquanto continua sem resposta, essa pergunta se junta a outras, igualmente graves, que flutuam pelos céus do Brasil:
- Quem mandou matar Marielle e Anderson?
- Por quais motivos continuam em liberdade os policiais rodoviários que assassinaram Genivaldo de Jesus, transformando a viatura em câmara de gás lacrimogêneo?
- Por que não foram presos os policiais que há um ano mataram com um tiro de fuzil no peito a modelo Kathlen Romeu, no Complexo do Lins, no Rio?
- Quem matou a tiros de fuzil o filho de 9 anos do líder rural Geovane da Silva Santos, na cidade pernambucana de Barreiros, em fevereiro?
- Por quais motivos não foram punidos os policiais acusados de matar em 2020 dentro de casa o menino João Pedro, de 14 anos, na favela do Salgueiro, em São Gonçalo.
Essas são apenas algumas das várias perguntas trágicas que estão há muito tempo sem resposta no Brasil.
Não se pode dizer que antes do bolsonarismo o país era um paraíso. Longe disso.
Há algum tempo, porém, existia alguma expectativa de que respostas a questionamentos como esses pudessem aparecer. Hoje, nem isso.
Espera-se ao menos que a pergunta sobre o paradeiro de Bruno e Dom não demore tanto a ser respondida.
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