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Pacheco faz ilusionismo e entrega à oposição CPI que não existirá
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O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), tem comportamento diferente do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), já que não é 100% alinhado com o governo e em momentos pontuais faz críticas aos desatinos de Jair Bolsonaro, algo impensável para o chefão da outra Casa legislativa. Ao mesmo tempo, Pacheco evita criar problemas para o Executivo, mesmo quando a trupe bolsonarista comete as maiores barbaridades. A ideia é parecer imparcial.
Foi esse figurino que o presidente do Senado tentou vestir com a decisão anunciada hoje, de abrir duas CPIs que vinham sendo pedidas por oposicionistas e governistas. Uma comissão, reivindicada pela oposição, deveria investigar o escândalo da gestão de Milton Ribeiro à frente do MEC - dois pastores evangélicos indicados pelo presidente Bolsonaro intermediaram verbas da pasta a prefeitos. A outra comissão, de interesse do governo, serviria para apurar as obras inacabadas em creches, escolas e universidades iniciadas durante o governo petista.
As duas CPIs começarão a funcionar após o período eleitoral, disse Pacheco, após negociação com os líderes partidários.
Isso equivale a dizer que nenhuma das duas CPIs existirá de fato.
Consta no regimento do Senado que comissões de inquérito não podem ultrapassar o prazo da legislatura em que foram criadas. Como o período eleitoral termina em final de outubro, as duas CPIs teriam que ser instaladas em novembro e encerradas em janeiro, o que na prática é inviável.
Sendo assim, o presidente do Senado fez puro ilusionismo regimental.
Comemoram os governistas, já que seu pedido de criação de comissão era mera revanche com a oposição. A proposta de investigar as obras inacabadas do MEC deixadas por gestões anteriores é totalmente extemporânea, não há fato determinado, o que por si só torna a ideia oportunista.
O objetivo real do governo era pressionar para que não houvesse uma CPI com poder de devassar o escândalo de Milton Ribeiro e seus dois pastores preferidos, Arilton Moura e Gilmar Santos, acusados de serem "despachantes" das verbas do MEC sem sequer trabalharem no serviço público.
A única credencial dos dois era terem sido indicados a Ribeiro por ninguém menos que o próprio presidente da República.
Por ter Bolsonaro como ponto de origem, esse caso tem potencial para causar muitos estragos na campanha à reeleição. Afinal, o presidente até agora não respondeu por quais motivos indicou os pastores para o ministro da Educação. Qual o real interesse presidencial na maracutaia? Além disso, Moura e Santos eram assíduos em muitos ministérios, sem que ninguém tenha explicado até agora o motivo de tal desenvoltura no Palácio do Planalto.
Por tudo isso, o governo respira aliviado com a decisão do presidente do Senado.
Pacheco, por sua vez, mantém para o grande público a pose de imparcial.
Já a oposição ficou de mãos abanando.
Vai tentar reverter o ilusionismo recorrendo ao Supremo Tribunal Federal, algo que dificilmente conseguirá.
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