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Ao estilo de Bolsonaro, governador do Rio também tem orçamento secreto
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Eleito com um falso discurso de combate à corrupção, o presidente Jair Bolsonaro (PL) apontou o governo na contramão de suas promessas e elevou à enésima potência a prática do "toma lá, dá cá". Desde que firmou parceria com os políticos do Centrão, o ocupante do Palácio do Planalto perdeu o pudor de entregar uma dinheirama dos cofres públicos a deputados e senadores em troca de apoio no Congresso. O ponto alto dessa infâmia tem o nome de orçamento secreto.
O artifício consiste em adaptar instrumento antigo, as emendas de relator, para dar a políticos aliados o domínio sobre polpudas quantias de recursos governamentais (mais precisamente R$ 19 bilhões), que são aplicadas sem a menor transparência. Boa parte desse dinheiro ninguém sabe onde foi parar e nem quais deputados ou senadores foram agraciados. Ou seja: é o governo transformando o Legislativo em Executivo - e, o que é pior, sem possibilidade de fiscalização.
Essa aberração criada em Brasília agora tem uma réplica em âmbito estadual. Mais precisamente no Rio de Janeiro.
Reportagem publicada no UOL, de autoria dos jornalistas Ruben Berta e Igor Mello, revelou o inacreditável esquema do governador Claudio Castro (PL), pré-candidato à reeleição, para empregar secretamente 9.000 pessoas em postos da administração fluminense a um custo de R$ 301,4 milhões. Tudo isso sem registro, sem contracheque, com salário sacado na boca do caixa, sem possibilidade de fiscalização.
Ainda por cima, ex-funcionários entrevistados pela TV Globo denunciam rachadinha: dizem que tiveram que repassar parte do salário aos dirigentes da Fundação Centro Estadual de Estatísticas, Pesquisas e Formação de Servidores Públicos (Ceperj), que aparece como empregadora.
O contribuinte conhece bem esse roteiro. Mais uma vez, é o dinheiro público sendo usado para compra de apoio político sem que o governante preste contas ao cidadão e com brecha para que alguns privilegiados se lambuzem ilegalmente com a grana.
Pego com a boca na botija, o governador do Rio tomou uma providência logo após os jornalistas do UOL publicarem a denúncia: tratou de colocar sob sigilo planilhas que ligam seu nome à maracutaia.
Um escárnio.
No país em que o presidente da República e um governador se acham no direito de gastar dinheiro público com aliados sem prestar contas à população, não há dúvida que é urgente restabelecer parâmetros mínimos de civilidade.
O genial Millôr Fernandes cunhou uma frase que tem tudo a ver com o Brasil de hoje: "a hipocrisia já é um avanço".
Bons tempos aqueles em que os autores das maracutaias tentavam ao menos fingir que eram corretos. Diante das denúncias, corriam para tomar alguma providência e tentar remediar o estrago.
Atualmente, quando flagrados em algum esquema, os políticos alvos da denúncia decretam sigilo sobre seus atos.
O efeito colateral dessa medida é que a partir de agora ficará muito mais difícil para Claudio Castro convencer o eleitor de que não tem culpa no cartório.
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