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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaro levou culto evangélico, mentiras e golpismo ao Maracanãzinho

O presidente Jair Bolsonaro (PL) durante convenção do PL, que oficializou sua campanha à reeleição - Ricardo Moraes/Reuters
O presidente Jair Bolsonaro (PL) durante convenção do PL, que oficializou sua campanha à reeleição Imagem: Ricardo Moraes/Reuters

Colunista do UOL

24/07/2022 15h33

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Apesar da esperança de algumas figuras do centrão de que Jair Bolsonaro moderasse o tom agressivo com que se refere ao Supremo Tribunal Federal (STF) e Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o candidato à reeleição a presidente manteve o tom golpista no Maracanãzinho. Depois de elogiar a parceria entre os poderes Executivo e Legislativo - este personficado no aliado Arthur Lira —, Bolsonaro deu a deixa para a plateia ao se referir ao STF. "Supremo é o povo!", repetiu o público, enquanto o presidente incentivava a manifestação com seu silêncio.

Chamou os ministros de "surdos de capa preta" e convocou os apoiadores a irem para a rua em 7 de setembro "pela última vez".

Além disso, levou a plateia a fazer uma espécie de pacto. "Eu juro dar a vida pela minha liberdade. Repitam!", ao que o público do Maracanãzinho repetiu a frase. Por qual motivo os bolsonaristas sacrificariam a própria vida? O presidente esclareceu. "Esse é o nosso exército, o exército do povo. É o exército que não admite corrupção, não admite fraude. Que quer transparência, que merece respeito", disse. Todos na arena entenderam que era mais uma ameaça ao processo eleitoral.

Bolsonaro repetiu as mentiras que espalhou na pandemia, segundo as quais o STF proibiu que o governo federal administrasse a crise sanitária (na verdade, o Supremo dividiu a responsabilidade); voltou a criticar o isolamento social, ou a política do "fique em casa, a economia a gente vê depois" (única forma de reduzir os danos da covid-19) e elogiou a desastrosa gestão dos ministros Pazuello e Queiroga.

Também usou lorotas para atacar o principal adversário nas eleições, Luiz Inácio Lula da Silva. Disse que o petista é a favor da legalização do aborto (o candidato do PT defende o cumprimento da lei que já prevê aborto legal em alguns casos) e que ele apoia os ladrões de celulares (o que Lula realmente disse foi que não podia mais ver jovens de 14 e 15 anos sendo violentados ou assassinados pela polícia, "às vezes inocente ou às vezes porque roubou um celular").

As referências religiosas no discurso de Bolsonaro foram frequentes. Mas foi a primeira-dama, Michelle, que o antecedeu no palco, que transformou o Maracanãzinho em verdadeiro templo. Termos como "cura", "amém", "bênção", "espírito santo", "glória" foram repetidos várias vezes, enquanto a senhora Bolsonaro tinha performance em tom neopentecostal. Tudo voltado para um dos principais grupos de eleitores do presidente, os evangélicos.

A pajelança não teve nada de curta, como chegou a ser anunciado que seria. Bolsonaro desenvolveu seu raciocínio tortuoso por quase duas horas.

Atrás de si, entre os aliados que estavam no palco, o orador tinha Arthur Lira, o presidente da Câmara, que recebeu muitos elogios do presidenciável. Apesar disso, Lira estava com cara de poucos amigos.

Talvez porque naquele momento o candidato mostrava a todos o que já era esperado: não adianta querer amenizar sua ira.

Na campanha, Bolsonaro continuará a ser Bolsonaro, para desespero do Centrão.

Talvez até mais raivoso que de costume.