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De presidenciável a comentarista de Lula, Moro passa recibo de decadência
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Pelos planos originais de Sergio Moro, a essa altura da temporada eleitoral ele estaria entre os candidatos a presidente da República entrevistados no Jornal Nacional. Embalado pela fama de herói que cultivou, imaginava para si um ano em que seria protagonista nas discussões sobre o Brasil pós-Bolsonaro. Se não fosse como líder das pesquisas à Presidência, ao menos como político cujo apoio seria disputado a tapa pelos participantes da corrida ao Planalto.
Como se sabe, nada disso aconteceu. Depois da desconstrução que sofreu, ao trocar o status de paladino anticorrupção da Lava Jato pelo rótulo de juiz parcial, carimbado pelo Supremo Tribunal Federal, a decadência de Moro se acelerou e atingiu um ritmo alucinante.
Entrou no governo Bolsonaro como ministro da Justiça e, depois de ser humilhado várias vezes pelo presidente, acabou pedindo o boné. Imaginou que os direitistas hidrófobos o seguiriam, mas eles continuaram fiéis ao bolsonarismo.
Mesmo sem ter esse apoio, achou que os eleitores lavajatistas seriam o suficiente para sustentar seus planos de chegar à Presidência. Mas o que se viu foi um grande fiasco. Além do fracasso nas pesquisas, as trapalhadas de Moro em suas tentativas de tornar-se presidenciável podem ser catalogadas entre as mais risíveis da história da República.
Teve o vídeo de lançamento de pré-candidatura pelo Podemos, no clima de 007, em que caminhava na Praça dos Três Poderes, paletó esvoaçante e cara séria, enquanto o locutor o apresentava como "Sergio, o Moro". Teve a série de palestras pagas a título de pré-campanha, muitas delas em auditórios vazios. Teve a troca de legenda para o União Brasil, em que, depois de Luciano Bivar passar-lhe a perna e tomar seu lugar como candidato a presidente, o ex-juiz tentou forjar candidatura ao Senado por São Paulo, onde nunca morou.
Tem agora a candidatura ao Senado pelo Paraná, onde Moro não se sentiu constrangido em enfrentar o político que o recebera entusiasmadamente no Podemos, Alvaro Dias. Pela última pesquisa Ipec, Dias, político experiente, tem uma vantagem de 11 pontos percentuais de intenções de votos sobre o ícone lavajatista.
Não satisfeito com a sequência de micos, Moro resolveu protagonizar mais um na noite de ontem. Achou grande ideia ir ao Twitter para comentar em tempo real a entrevista de Lula ao Jornal Nacional.
Logo de saída, teve que engolir o momento em que William Bonner reconheceu para o petista que ele "não deve nada à Justiça". A seguir, viu Lula desossar a Lava Jato, dizendo, entre outras coisas, que delator preso conseguia a liberdade por falar o que os promotores do Ministério Público queriam, "e ainda ganhava 50% do que roubou".
Restou ao ex-juiz tuiteiro retomar a retórica anticorrupção, acusar o petista de mentir e recorrer a casos que o STF já desmontou, como o do triplex e o do sítio de Atibaia.
Enquanto Moro postava textos com referências aos seus momentos de falsa glória do passado recente, Lula se mostrava sorridente a Bonner e a Renata Vasconcellos, dizendo-se disposto a enfrentar o futuro sem rancores.
Os comentários nos tuítes de Moro - quase 90% com críticas a ele - dão a dimensão de como o papel de comentarista é mais um item no seu rol de fracassos.
O ex-magistrado ainda tem tempo para mudar seus números na corrida ao Senado pelo Paraná, o que seria para ele uma tábua de salvação.
Mesmo que consiga se eleger, o papel de comentarista de Lula, que desempenhou ontem, será lembrado por muito tempo como recibo da decadência daquele que sonhava estar no lugar que seu oponente ocupa hoje.
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