Discussão sobre racismo foi a grande ausência do debate presidencial

É impossível que um debate entre presidenciáveis consiga abarcar todos os problemas do país. O tempo é pequeno para a quantidade de encrencas em que o Brasil está metido. Mas é de se esperar que as principais questões sejam abordadas pelos candidatos a presidente. Infelizmente, os debatedores de ontem deixaram de fora da discussão o principal problema brasileiro.

O racismo, que está na raiz de boa parte das tragédias nacionais, não foi citado em nenhum momento.

A curta menção à devastação ambiental e a total omissão sobre a situação dramática dos indígenas foram, sem dúvida, falhas importantes.

Mas praticamente todos os problemas citados pelos candidatos têm como maiores vítimas os negros, que historicamente foram mantidos nos estratos mais pobres da sociedade. Seja na Economia, na Saúde, na Segurança Pública ou na Educação, são os negros que sofrem mais com o desgoverno atual e com a inoperância dos governos anteriores.

Há causas estruturais para isso, mas também pesam bastante os fatores circunstanciais: Jair Bolsonaro não dá a mínima para a igualdade racial, já fez várias declarações racistas, se dedicou a desconstruir as políticas públicas para o povo preto e despreza todo o seu simbolismo - como se viu na atuação de Sérgio Camargo à frente da Fundação Palmares.

Além disso, a recorrência de mortes de negros provocadas pelos agentes públicos de segurança é uma das maiores barbáries nacionais.

Nenhum desses tópicos foi abordado no debate de ontem.

Certamente o fato de não haver negros entre os presidenciáveis e entre os jornalistas que fizeram as perguntas é um dos motivos dessa falta.

No entanto, levando-se em consideração que o combate ao racismo não cabe somente aos negros, mas também aos brancos que querem uma sociedade mais justa, é difícil entender como essa discussão não apareceu na(s) telinha(s).

Que nas próximas entrevistas e debates o problema da discriminação racial tenha a atenção devida.

O racismo é ao mesmo tempo causa e subproduto da barbárie brasileira. O próximo presidente não pode chegar ao poder sem dizer o que vai fazer para atacar esse flagelo.