Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
No RJ, nascedouro da milícia, os justiceiros estão no poder
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A opressão de grupos marginais sobre a população de áreas pobres do Rio de Janeiro não chega a ser novidade. Há muitas décadas o estado está subdividido em feudos onde vigoram leis paralelas ao regramento jurídico oficial. São códigos baseados na intimidação, na corrupção e na matança.
Modalidade criminosa que mais cresce em terras fluminenses, a milícia segue esse receituário, que antes era excusivo das facções de trafiicantes. Mas tem um agravante que pode ser verificado nos depoimentos dramáticos das vítimas ouvidas na reportagem especial "Vizinhos do Mal", que o UOL publica hoje.
Algumas frases, ditas pelas pessoas comuns que aparecem na matéria e que mudaram radicalmente suas vidas ao se tornarem alvos de milicianos servem para comprovar que essa modalidade criminosa é a mais perigosa de todas.
— "Cada um dos líderes dessas cooperativas (de vans) tinha uma ligação direta com o policial militar que estava já preso".
— "Eles efetuavam propinas a policiais pra poder circular livremente".
— "Eu não posso dizer que, se tiver 100 policiais lá (no batalhão), os 100 estão envolvidos, mas 89 você pode ter certeza".
O diferencial das milícias é essa mistura promíscua entre seus integrantes e os servidores na área de Segurança Pública.
Quando quem deveria defender a lei passa para o lado do crime, as vítimas ficam sem ter a quem recorrer.
Nessa engrenagem que garante a impunidade, os milicianos ficam à vontade para exercitar sua crueldade, criar os "impostos" que lhes der na telha, tomar os imóveis que acharem mais confortáveis e decidir como quiserem sobre a vida e a morte dos moradores.
Nunca, desde o seu surgimento, no início da década de 90, a milícia chegou tão longe como agora.
A ponto de o Ministério Público do Rio constatar que o grupo de Luís Antônio da Silva Braga, conhecido como Zinho, usa bancos de dados oficiais do governo estadual para levantar informações de inimigos e planejar homicídios, além de extorquir dinheiro de lojistas e moradores da Zona Oeste e da Baixada Fluminense.
Ou seja: na gestão do governador Cláudio Castro, os grupos paramilitares avançaram. Não apenas aliciam os servidores públicos que deveriam ser os fiscais da lei, como utilizam a infraestrutura estatal para organizar a prática de crimes.
Se lembrarmos que, além dessa simbiose com a máquina do governo estadual, o presidente da República atual e seus filhos são amigos e já homenagearam vários integrantes de grupos milicianos, podemos concluir que está longe o fim do sofrimento de cidadãos como Pedro, Flávia e Adiana.
Obrigados a trocar de endereço e até de cidade por causa desses bandidos, e às voltas com os traumas que a situação causou, eles personificam a rotina trágica a que tantos moradores do Rio estão sujeitos, sem poder denunciar.
Espera-se que "Vizinhos do Mal" ajude a fazer com que sejam ouvidos e que seu desejo de justiça um dia se realize.
Tornar esse drama visível, como eles fizeram ao dar depoimento sobre a opressão dos milicianos, é o primeiro passo para que isso aconteça.
Mas por enquanto, em muitos bairros do Rio, são os justiceiros da milícia que estão no poder
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