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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

No DF e no Rio, Bolsonaro esquece Independência e faz campanha descarada

7.set.2022 - O atual mandatário Jair Bolsonaro (PL), o presidente de Portugal Marcelo Rebelo Souza (centro), e o vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos) durante as comemorações do Bicentenário da independência do Brasil, em Brasília - TON MOLINA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
7.set.2022 - O atual mandatário Jair Bolsonaro (PL), o presidente de Portugal Marcelo Rebelo Souza (centro), e o vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos) durante as comemorações do Bicentenário da independência do Brasil, em Brasília Imagem: TON MOLINA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

Colunista do UOL

07/09/2022 17h21

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Será que os generais, almirantes e brigadeiros que tanto colaboraram para que Jair Bolsonaro chegasse à Presidência e para sustentar o seu governo estão satisfeitos? Difícil imaginar como farão para adequar seu discurso patriótico aos desatinos do presidente da República, que hoje descaradamente deixou de lado o bicentenário da Independência para usar a data como oportunidade de campanha.

O marco da fundação da nação brasileira foi solenemente ignorado — a presença do presidente de Portugal, Marcelo Rebelo Souza, e a viagem do coração de Dom Pedro I foram em vão.

O oportunismo eleitoreiro foi visto primeiro em Brasília, onde Bolsonaro subiu em carro de som para listar o que julga serem realizações de seu governo, atacar o seu adversário direto na corrida presidencial e conclamar os militantes "à vitória". Era um típico candidato em campanha. Na plataforma de um futuro governo, incluiu seu projeto de autocracia, prometendo trazer "para dentro das quatro linhas" quem estiver de fora.

De quebra, o presidente brindou a multidão com seu habitual show de grosserias. Propôs uma inacreditável competição entre "primeiras-damas" - Michelle Bolsonaro e Rosângela da Silva, a Janja, casada com Lula. Aderiu ao coro dos apoiadores e no microfone propagou ao Brasil sua masculinidade tóxica, proclamando-se "imbrochável".

Não poderia faltar o inapropriado toque religioso, que foi a tônica da fala de Michelle Bolsonaro —- praticamente um culto, que exaltava o Brasil como "país cristão".

Ali, não disse uma palavra sobre a data histórica dos 200 anos de Independência.

Depois, no Rio, o presidente não fez pronunciamento enquanto esteve no palanque em Copacabana destinado à celebração do 7 de Setembro. Assim que pulou para o caminhão de som que estava próximo, destravou o discurso eleitoral. Ofendeu Lula, referindo-se a ele como "quadrilheiro de nove dedos" e disse que "esse tipo de gente tem que ser extirpado da vida pública". E para não deixar dúvidas de que estava em campanha, emendou: "Teremos um governo muito melhor com a nossa eleição, com a graça de Deus".

Mentiu descaradamente, como é de seu costume, voltando a falar sobre a falsa ameaça que o presidenciável petista nunca fez, sobre fechar igrejas caso seja eleito.

Mais uma vez, ignorou completamente o bicentenário da Independência.

Estranho patriotismo esse, de Bolsonaro. E também daqueles generais, brigadeiros e almirantes que o apoiam mesmo vendo uma celebração nacional ficar em segundo plano em relação aos planos eleitorais do inquilino do Planalto.

Caso o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decida cumprir sua obrigação e aplique punição severa a Bolsonaro por transformar um evento de Estado em campanha eleitoreira, esses fardados certamente se manifestarão.

Que sejam ignorados.

E que o país volte a seguir a Constituição, sem que para isso precise pedir permissão aos oficiais bolsonaristas.