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'Foco é vitória de Lula', diz autor das músicas que animaram petistas no NE
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Há muitos anos não surgia no Brasil uma novidade na forma de fazer campanha política como a que se viu este ano no interior do Nordeste. Nada de discursos monótonos, palavras de ordem clichê ou jingles previsíveis. Nas cidades nordestinas do interior, onde o PT reina absoluto, o apoio ao presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva se materializou em multidões vestidas de vermelho, dançando nas ruas e cantando refrões em favor do petista e contra Jair Bolsonaro.
Praticamente todas as músicas que embalaram esse Carnaval fora de época foram compostas ou interpretadas por uma só pessoa: Juliano Hermínio Luz, o Juliano Maderada, de 48 anos. "O povo não tem interesse nas músicas convencionais da política", explicou ele à coluna.
De compositor de jingles profissionais, veiculados em seu canal do YouTube, Maderada, que vive na cidade baiana de Iguaí, passou a fazer músicas com ritmo mais forte. Primeiro foram parar no TikTok, inspirando várias dancinhas - a recordista é uma composição cujo refrão repete: "Ei, Lula, eu vou votar em tu". Esse hit chegou a 100 milhões de visualizações.
Depois, as músicas acabaram transpostas para os carros de som com enormes sistemas de alto-falantes, os chamados "paredões". "A diferença é que as músicas que eu fiz atingiram um outro público, bem maior que o dos jingles tradicionais", diz.
Foi a partir dessa receita que os chamados "arrastões" festivos se espalharam por várias cidades do interior do Nordeste, onde Lula não pôde comparecer. Em cada evento com até 5 mil pessoas, participavam de três a cinco carros de som, usados apenas para tocar as músicas. Nessas manifestações não há discurso político, nem é necessário, já que os refrões das composições de Maderada passam mensagens bastante claras.
"Tá na hora do Jair/ Já ir embora/ Arruma suas malas/ Dá no pé e vai se embora", "Deu saudade do tempo de Lula/ em que a vida era boa/ Eu comia, eu bebia", "O gado pira que nós fala a verdade / Só no tempo de Lula nós comia à vontade", são alguns dos trechos de composições tocadas nesses "arrastões". Todas em ritmos animados como pagodão baiano, piseiro, lambada e outros do gênero.
Nos últimos dias da campanha do primeiro turno, alguns estados registraram até 60 manifestações similares, todas ao som das músicas de Maderada.
O artista tem motivação bastante consistente para criar composições em homenagem ao presidenciável petista. Desde o primeiro governo de Lula, aprendeu a admirá-lo.
"Meu pai tinha uma fazenda pequena e dizia que Lula era comunista e se ganhasse iria tomar as terras do povo. Essas histórias eram contadas pelos velhos políticos da direita", recorda ele. O líder do PT venceu a eleição de 2002, se tornou presidente e o fazendeiro mudou de ideia: "Lá na roça não tinha nada e meu pai viu chegar transporte escolar, energia elétrica e outros benefícios. Ele nunca mais deixou de votar em Lula e eu me filiei ao PT".
Para Maderada, os governos do petista tiveram a marca da inclusão social, usando os mesmos recursos que o Brasil já arrecadava para fazer uma melhor distribuição de renda. "A direita só beneficia quem já tem dinheiro", acredita.
Fala da Lava Jato em tom de revolta, por causa das injustiças cometidas contra Lula, principalmente pela condenação à prisão. "Ele virou preso político, isso machucou muito", diz.
Em novembro de 2019, a emoção de ver o ex-presidente sair da prisão do Paraná, onde ficou 580 dias, após a anulação da condenação pelo Supremo Tribunal Federal (STF), levou Maderada a criar a primeira música que tinha Lula como tema. A partir daí não parou mais.
"Essas músicas atraíram muita gente que estava fora da política", acredita.
Maderada não pensa agora em usar esse talento para turbinar sua própria carreira artística. "O que tem me emocionado são os encontros que tive com Lula, os apoios que ele ganhou", diz o artista, que só recentemente passou a ser remunerado pelo partido por todos os jingles que criou espontaneamente para o petista.
"O foco agora é a vitória do Lula", garante o compositor que mobilizou multidões em vários estados do Nordeste.
Para ele, a maior recompensa é saber que contribuiu para essa conquista eleitoral. "Nem mesmo um milhão de pessoas dançando na rua me emocionam mais que isso", garante.
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