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Chico Alves

REPORTAGEM

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'Bolsonaro acha que nordestino é sub-raça', diz Flávio Dino

Senador eleito pelo Maranhão, Flávio Dino (PSB) - Karlos Geromy/Governo do Maranhão
Senador eleito pelo Maranhão, Flávio Dino (PSB) Imagem: Karlos Geromy/Governo do Maranhão

Colunista do UOL

07/10/2022 12h53

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Eleito senador pelo Maranhão, Flávio Dino (PSB) não se mostra surpreso com as recentes declarações de preconceito contra o Nordeste feitas pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição. "Ele é uma pessoa intrinsecamente violenta, preconceituosa", disse à coluna, referindo-se a fala em que Bolsonaro menosprezou a região por causa da votação expressiva de Luiz Inácio Lula da Silva.

Para o político maranhense, Bolsonaro acaba por exterminar qualquer possibilidade de crescimento da candidatura na região ao se mostrar tal como é. "Ele minou do horizonte qualquer perspectiva de melhorar o desempenho na região Nordeste", acredita o senador eleito.

Nessa entrevista, Flávio Dino fala também sobre a eficácia do combate às fake news na eleição desse ano e também sobre a estimativa de aumento da votação de Lula entre os eleitores nordestinos no segundo turno.

UOL - Como o sr. avalia as recentes declarações de Bolsonaro, menosprezando a região por causa da expressiva votação conseguida por Lula?

Flávio Dino - É a confirmação de que Bolsonaro tem como traço identitário fundamental o preconceito. Ele é uma pessoa que se move por isso de um modo geral, alimenta sua base política com isso e está disposto a tudo pelo poder, inclusive atropelar os seus deveres de Presidente da República. Nesse posto, ele é o guardião da união nacional. Então, quando agride uma região ele está criando na verdade um fator de conflito federativo.

Longe desse preconceito bolsonarista, a grande votação do PT na região está ligada a dois fatores. Primeiro, a grande atenção que Lula deu à região, com obras históricas, como a transposição do Rio São Francisco e programas como Luz Para Todos, estímulo à agricultura familiar, Prouni, cisternas e outros. E também pelo fato de Bolsonaro ter virado as costas para a região.

Foi o que se viu naquele vazamento de óleo nas praias do Nordeste, que teve um peso ambiental e econômico na indústria do turismo, mas Bolsonaro desprezou totalmente o fato. E também naquela enchente na Bahia, com gente morrendo e ele passeando de jet ski em Santa Catarina. É a soma desses dois fatores que explica a grande votação do Lula e a derrota de Bolsonaro.

Quando ele incentiva preconceitos, cava um buraco ainda mais profundo sob os próprios pés, com uma repercussão desastrosa na região.

Qual repercussão eleitoral avalia que essa declaração vai ter? Acha que Lula vai conseguir mais votos no Nordeste por causa disso?

Ele minou do horizonte qualquer perspectiva de melhorar o desempenho na região Nordeste. Quanto a Lula aumentar a votação, temos um desafio objetivo que são as barreiras econômicas para o acesso ao transporte nas zonas rurais. Se isso for resolvido como deve pela Justiça Eleitoral, tenho certeza que em todos os estados Lula ainda pode subir um pouquinho. Não tanto, porque o patamar já é muito alto. Aqui no Maranhão ele teve 69% dos votos e estamos trabalhando para chegar de 75% a 80%.

Qual a gravidade de ter na Presidência alguém que expressa tanto preconceito?

É Bolsonaro sendo Bolsonaro. Ele é uma pessoa intrinsecamente violenta, preconceituosa. É violento sobretudo com quem ele considera mais fraco. É um covarde. Considera que as mulheres são mais fracas e então agride a mulher. Considera os indígenas mais fracos, agride os indígenas. Insiste nesses ataques ao Nordeste porque Bolsonaro acha que nordestinos são sub-raça. Objetivamente é isso. Em 2019 já tinha me agredido, me tratando como "paraíba".

Ele é isso: uma pessoa preconceituosa, violenta, que ataca aqueles que considera mais frágeis. Do ponto de vista jurídico ele comete mais uma vez crime comum e crime de responsabilidade. Tenho certeza que em algum momento ele vai ter sua responsabilidade jurídica evidenciada.

Isso mostra que Lula é o principal adversário, mas que o próprio Bolsonaro acaba destruindo as condições de crescimento da candidatura. Isso vai acontecer, porque ele não aguenta um debate frente a frente com Lula. Da última vez, teve que usar o falso padre, para sabotar o debate. Mas no debate frente a frente vai fazer o quê? Dar um soco na cara do Lula? Ele vai ter que se expor, vai ficar desatinado.

O sr., que é juiz federal, como vê a atuação da Justiça Eleitoral no combate às fake news nessa eleição?

Sempre uso termos comparativos, porque o ideal não existe. A atuação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e do Judiciário de uma maneira geral em 2022 já é muito melhor que em 2018. Esse ano houve ampliação da eficácia dos organismos de controle, mas chegar ao ponto de 100% de eficácia é muito difícil, porque a tecnologia é instantânea e feita justamente para ter essa hipervelocidade. Eu acho que a jurisprudência tem sido muito firme e no futuro isso vai ser aprimorada. Também acho que o nível de vigilância da sociedade aumentou. Vejo menos acolhida de fake news agora do que há quatro anos.

Hoje mesmo está circulando uma fake news absurda aqui no Maranhão, de que o governador sancionou uma lei sobre banheiro unissex. Mas eu creio que a taxa de credibilidade das fake news hoje é muito menor que em 2018. Ou seja: avançamos e temos que continuar a avançar.