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Chico Alves

REPORTAGEM

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Sem provas, Bolsonaro disse que venezuelanas do DF queriam "fazer programa"

Jair Bolsonaro no Podcast Collab - Reprodução de vídeo
Jair Bolsonaro no Podcast Collab Imagem: Reprodução de vídeo

Colunista do UOL

16/10/2022 11h30

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Ao participar no mês passado do Podcast Collab, com influenciadores evangélicos, o presidente Jair Bolsonaro relatou a mesma visita a uma casa no bairro de São Sebastião (DF) que descreveu ao canal Paparazzo Rubro-Negro, na sexta feira. Na entrevista anterior, porém, Bolsonaro foi mais explícito em relação ao que supôs ser a ocupação de mulheres e meninas de "14, 15 anos" que encontrou na residência. Segundo o presidente disse aos participantes do Collab, elas estavam ali "pra fazer programa".

Bolsonaro disse aos influenciadores evangélicos que chegou a essa conclusão porque estavam "todas muito bem arrumadas, estavam fazendo o cabelo". Questionou: "Estavam se arrumando para quê? Alguém tem ideia? Quer que eu fale? Não vou falar".

Quando um dos entrevistadores falou que estavam para fazer programa, Bolsonaro confirmou. "Pra fazer programa. Vocês acham que elas queriam fazer isso? Qual era a fonte de sobrevivência delas? Essa.". Veja o vídeo abaixo:

Uma das mulheres venezuelanas que estava presente no dia da visita do presidente, em 2021, negou a versão do presidente. Localizada pelas jornalistas Camila Turtelli e Amanda Rossi, do UOL, ela disse que entre as adolescentes no local, onde acontecia uma ação social, estavam sua filha e sua sobrinha. "Não tem nada a ver com o que ele está falando agora", disse a mulher, que não quer se identificar por temer ataques.

Na live que fez pouco depois da meia-noite para tentar se defender das acusações de pedofilia - na entrevista de sexta-feira, ele disse que ao avistar as adolescentes "pintou um clima" —, Bolsonaro também fez insinuações de que havia prostituição infantil no local, mas não foi tão explícito.

"Fiz uma live de dentro da casa das meninas que estavam se arrumando num sábado de manhã em plena covid. Não iriam para festinhas. Iriam para onde? Deixei claro que a conclusão cabia a cada um que estivesse me vendo naquela live", disse na transmissão feita nessa madrugada.

O deputado distrital de Brasília Leandro Grass (PV) enviou ontem à Procuradoria-Geral da República um ofício para investigar as falas do presidente no canal Paparazzo Rubro-Negro, especialmente no trecho em que ele diz que "pintou um clima".

Segundo Grass, mesmo a divulgação do vídeo em que Bolsonaro visita a casa, veiculado na CNN Brasil, não o livra das acusações. "Primeiro tem uma dúvida em relação àquilo que ele transmitiu e aquilo que ele relatou", disse o parlamentar à coluna. "Tem várias inconsistências nas justificativas dele, há várias pontos que precisam ser esclarecidos".

Diz o deputado: "Ou o vídeo que mostra o presidente na casa com meninas venezuelanas não é o mesmo da ocasião relatada no podcast, ou ele afirmou de forma ofensiva e difamatória que adolescentes abrigadas em um lar para refugiados estariam lá para 'ganhar a vida'". Para Grass, nos dois casos Bolsonaro é passível de responsabilização.