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Pai de João Pedro, sobre prisão de Jefferson: 'Na favela não é assim'
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O vídeo em que um delegado da Polícia Federal conversa amistosamente com Roberto Jefferson, depois que ele atacou a tiros e granadas dois agentes que tentaram prendê-lo, foi visto com incredulidade por Neilton Pinto. Muitos brasileiros ficaram indignados com a cena, mas Pinto tem motivo mais forte para sentir revolta. Há dois anos, seu filho, João Pedro, de 14 anos, foi morto a tiros na favela do Salgueiro, em São Gonçalo (RJ), em operação coordenada pelos federais. Sem qualquer justificativa, a polícia entrou atirando na casa e alvejou o menino.
"A gente vê como dentro de uma comunidade a forma como a polícia entra é bem diferente do que acontece quando vai à casa de uma pessoa pública, de uma pessoa influente", diz Pinto. "A diferença de Roberto Jefferson para João Pedro é essa".
No dia 18 de maio de 2020, o menino estava brincando com amigos na casa de um tio, na comunidade do Salgueiro, quando o imóvel foi invadido por policiais civis que chegaram atirando. Alvejado, o menino foi levado de helicóptero ao hospital, mas não resistiu. A operação foi coordenada pela Polícia Federal.
Investigação da 1ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada do Núcleo Niterói e São Gonçalo comprovou que os agentes alteraram e fraudaram a cena do crime enquanto aguardavam a chegada da perícia, com objetivo de criar falsos indícios de confronto com criminosos.
"Pensei no meu filho quando vi aquela cena do policial federal conversando com Roberto Jefferson, não teria como não pensar nisso", diz Rafaela, mãe de João Pedro. "A questão toda é ele ser uma figura pública, que não é pobre, não é favelado. Na comunidade, a polícia acha que pode entrar, pode fazer o que quiser, que vão abafar o caso".
O pai do menino chama atenção para a diferença de circunstâncias: na casa de Jefferson, os policiais foram recebidos a tiros, enquanto no imóvel onde estava João Pedro a polícia entrou atirando.
"Na casa do meu irmão (onde João Pedro foi morto) não pediram para entrar, não tocaram a campainha, não pediram permissão. Já chegaram dando tiro", recorda Pinto. "Com Roberto Jefferson, ficaram esperando no portão do lado de fora e quando entraram o policial ficou amistoso, conversando não sei o quê. Na favela não é assim".
Rafaela não tem dúvida do tratamento diferenciado. "Se fosse na favela, com um jovem negro como o João Pedro, eles fariam da forma que fizeram com meu filho: mataram".
A próxima audiência de julgamento dos acusados de matar João Pedro vai ser realizada no dia 16 de novembro. Três policiais civis estão no banco dos réus, mas os pais da vítima esperam que os federais, que coordenaram a operação, também sejam considerados culpados. "Se a federal era responsável pela operação, então tem culpa por tudo o que aconteceu", diz Rafaela.
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