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Chico Alves

REPORTAGEM

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Agronegócio não pode apoiar desobediência civil, diz Ronaldo Caiado

Governador de Goiás, Ronaldo Caiado - Reprodução
Governador de Goiás, Ronaldo Caiado Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

24/11/2022 10h38

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Poucos no Brasil entendem de agronegócio como o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União). Produtor rural, ele foi fundador e atuou por 30 anos na União Democrática Ruralista (UDR), criada em 1986, entidade pioneira no país em defender interesses do setor. Desde então, se relaciona bem com os empresários do campo. Essa boa convivência foi estremecida na terça-feira 22, quando representantes do agro - alguns armados — invadiram o plenário da Assembleia Legislativa de Goiás, onde seria votada proposta de Caiado para criar uma contribuição de 1.65% dos lucros do setor.

"É precedente grave, no momento em que a classe deveria dar o exemplo de respeito ao direito de propriedade e respeito aos poderes", criticou o governador goiano à coluna.

O projeto acabou aprovado ontem, em sessão na assembleia fechada ao público, mas o episódio provocou grande preocupação no governador de Goiás quanto à radicalização de parte do setor. "As pessoas estavam armadas de facas, canivetes e armas de fogo", relata. "Até que a polícia chegasse, os deputados correram e ficaram trancados dentro da sala do cafezinho".

Caiado cita a própria trajetória para mostrar a diferença para o comportamento do grupo de agricultores que intimidou os deputados e de outros que por todo o país têm se mostrado cada vez mais extremistas: "Comandei o setor rural por muitos anos, fui candidato a presidente da República, nunca deixei que extremados tomassem as decisões. Nunca me insurgi contra as regras e princípios da democracia. Sempre ganhei no voto".

Os invasores da assembleia reclamavam do projeto que o governador mandou para votação dos deputados, que institui a contribuição de 1.65% sobre lucros dos empresários. A quantia será depositada em um fundo destinado a melhorar rodovias que servem principalmente de rota para o agronegócio - as estradas foram indicadas por representantes do setor. Caiado argumenta que o aporte de recursos é necessário diante do corte de ICMS que os estados sofreram.

"Para entrar no regime de recuperação fiscal, fui obrigado a tributar aposentado que ganhava a partir de 2.150 reais em 14.25% em parte da aposentadoria. Agora quem ganha milhões não pode pagar 1.65% durante quatro anos?", questiona o governador.

Empresários do agro invade assembleia legislativa de Goiás - Reprodução de vídeo - Reprodução de vídeo
Imagem: Reprodução de vídeo

O movimento extremista, segundo Caiado, é comandado por empresários ligados a tradings (empresas que fazem negociações na Bolsa de Valores de curtíssimo prazo).

"São pessoas querendo ganhar cada vez mais e não querem contribuir com nada", afirma. "A conversa desses caras é: 'Eu troquei o meu helicóptero monoturbo por um biturbo, comprei mais um jato'...as pessoas entram numa paranoia que é inimaginável. Se sentem acima do Estado, acima da lei".

Para o governador, o que aconteceu em seu estado e outros recantos do Brasil deve servir de alerta.

"É a medievalização da política brasileira. Tenho uma tropa maior, invado e pronto, como acontecia na Era Medieval", compara. "A partir de fatos como o que aconteceu aqui, surge um clima de desobediência civil, que o agronegócio não pode apoiar. Um deputado do PT veio me perguntar: o jogo é esse agora, quando estiver em jogo um projeto de saúde eu vou invadir e quebrar tudo?".

Por receio de que aconteça na assembleia do Paraná o mesmo que aconteceu em Goiás, Caiado disse que o governador paranaense Ratinho Júnior (PSD) deve desistir de um projeto igual ao que ele propôs, que instituiria contribuição extra do agro.

O chefe do Executivo goiano considera inadmissível que uma parcela de radicais leve todo o setor para a clandestinidade. "Pela ganância de alguns, a barbárie pode fazer perder toda a credibilidade que o agro conquistou", analisa.

A conduta violenta é praticada por uma pequena parte dos agricultores, garante Caiado, mas os empresários que agem ordeiramente preferem não se manifestar nesse momento. "Eles temem ataques, inclusive físicos", diz o governador. "Se esses aloprados não forem enquadrados na lei, ordem e disciplina, amanhã qualquer decisão do Legislativo ou do Judiciário pode estar sujeita a pressão de invasores".