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Em seu universo paralelo, Mourão justifica golpistas e ataca o TSE
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Quando começou o governo de Jair Bolsonaro, houve quem acreditasse que o general da reserva Hamilton Mourão, o vice-presidente, fosse a cabeça sensata do Palácio do Planalto. Imaginava-se que ele impediria o presidente de sair dos trilhos. É certo que não há concorrente para o desequilíbrio de Bolsonaro, mas logo se viu que Mourão está muito longe da sensatez.
Quem apostou que o vice poderia ser uma espécie de grilo falante do presidente não prestou atenção nas bobagens que o general falou ainda durante a campanha. Defendeu o fim do 13º salário, disse que filhos criados sem a presença dos pais "tendem a ingressar no narcotráfico" e anunciou orgulhoso que o neto seria o "branqueamento da raça".
Durante o governo, Mourão tomou posições óbvias que, em comparação com as de Bolsonaro, pareciam o auge da sensatez. Defendeu as vacinas contra covid-19, fez desagravo a China quando os olavistas do Planalto - inclusive o presidente - atacavam o maior parceiro comercial brasileiro e defendeu que Bolsonaro entregue a faixa presidencial a Luiz Inácio Lula da Silva.
Os últimos quatro anos de Mourão, porém, foram marcados por barbeiragens administrativas e discursivas. Na presidência do Conselho da Amazônia, praticou negacionismo quanto ao desmatamento e minimizou a ação de madeireiros e garimpeiros ilegais - o resultado foi uma devastação inédita.
No capítulo das falas desastradas, o vice criticou a acertada decisão do ministro do Supremo Federal (STF), Edson Fachin, que suspendeu parte dos decretos presidenciais que afrouxavam as regras para posse e porte de armas, classificando como "ingerência indevida"; disse que o jornalista inglês Dom Phillips "entrou de gaiato" ao ser assassinado na Amazônia junto com o indigenista brasileiro Bruno Pereira e sentenciou que todo aquele que se define como simpatizante da esquerda é comunista.
Agora, eleito senador pelo Rio Grande do Sul, Mourão se mantém ativo, divulgando seus conceitos aleatórios em discursos e nas redes sociais. Os alvos preferenciais são os de sempre, o PT e os ministros do STF, em especial Alexandre de Moraes.
Hoje ele voltou à carga. No Twitter, repetiu seu discurso enviesado, como se fosse uma figura imparcial.
Diz que há uma "polêmica justificada" sobre a confiabilidade das urnas eletrônicas - algo com o que somente os bolsonaristas radicais e alguns generais paranoicos concordam, a despeito do aval das mais respeitadas instituições brasileiras.
Sobre o despropositado recurso do PL, pedindo que fossem desconsideradas mais de 250 mil urnas, Mourão reclama que o TSE extrapolou ao aplicar "multa absurda" e incluir os demandantes em inquérito "notadamente ilegal" (no entender de quem?).
Além disso, mais uma vez critica a reunião promovida pelo ministro Moraes com alguns comandantes da PM. Seria esse, segundo diz, o "ápice do autoritarismo" que nos faz rumar para um "precipício". Termina o tuíte pedindo para que se restabeleça o Estado Democrático de Direito no país — algo que não viu ameaçado diante dos diversos arroubos de Bolsonaro, que várias vezes desafiou o Supremo, incitou hordas a insultar instituições e aparelhou corporações como a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal.
De quebra, Mourão confirma que está na vanguarda do atraso ao anunciar que é hora de combater a "esquerda revolucionária", como se fosse um personagem saído de uma esquete sobre 1964.
O general da reserva e senador eleito diz todas essas bobagens com aquele tom tranquilo dos que têm a certeza de que está cravando verdades incontestáveis.
Alguém próximo poderia alertar Mourão de que ele apenas está exercitando sua visão política parcial, justificando movimento golpista e menosprezando Moraes, o personagem que garantiu a manutenção da normalidade democrática no país — algo tão atacado pelo político com quem dividiu a chapa em 2018.
Pior é saber que, além do original, existem muitos outros Mourões, tanto na reserva quanto na ativa das Forças Armadas,
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