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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Além dos yanomamis de RR, indígenas de outras partes do país pedem socorro

10.set.2019 - Índio Guajajara, "guardião da floresta", busca por madeireiros ilegais perto da cidade de Amarante, no Maranhão - Ueslei Marcelino/Reuters
10.set.2019 - Índio Guajajara, "guardião da floresta", busca por madeireiros ilegais perto da cidade de Amarante, no Maranhão Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

Colunista do UOL

25/01/2023 09h25

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O Brasil e o mundo ficaram escandalizados com as condições calamitosas da comunidade yanomami de Roraima, onde 570 crianças morreram de subnutrição e adultos estão em estado crítico. O abandono a que foram relegados pelo governo de Jair Bolsonaro causou a tragédia humanitária que agora a equipe do presidente Lula tenta reverter, em regime de emergência. Doações de alimentos e remédios têm chegado ao local, equipes de saúde foram enviadas.

O drama desse grupo merece toda a prioridade, mas é preciso lembrar: por todo o país, indígenas estão ameaçados.

A cobiça por terras, o choque cultural, a falta de meios de subsistência e a devastação ambiental são alguns dos fatores que colocam em risco a vida dos povos originários em diversas áreas. Ajudar os yanomamis de Roraima é apenas uma das várias ações que serão necessárias, caso o Brasil finalmente tenha acordado para a necessidade de garantir a sobrevivência dos povos da floresta.

Não faltam indícios dessa situação dramática. Um deles foi exposto no Atlas da Violência de 2021: em cinco estados (Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Norte, Roraima e Rio Grande do Sul), a taxa de homicídio entre os indígenas é maior que a verificada entre os demais habitantes. O caso mais gritante é o do Mato Grosso do Sul, onde em 2019 foram registrados 44,8 assassinatos por 100 mil indígenas, enquanto entre os outros habitantes o registro foi de 17,7 assassinatos por 100 mil.

Marcas de abandono parecidas com as que se vê em Roraima podem ser constatadas em outros recantos. No Mato Grosso do Sul, a cidade de Dourados tem a maior reserva indígena do país, com 15 mil pessoas, e também vive uma crise humanitária. A falta de demarcação de trechos de terras causa conflitos em que famílias são atacadas por grupos armados e obrigadas a morar em áreas não cultiváveis. Por isso, muitas crianças são subnutridas.

Mesmo em estados que não foram citados no levantamento do Mapa da Violência, a vida nas comunidades originárias está em perigo. Na reserva Araribóia, no Maranhão, houve registro de várias mortes a mando de madeireiros que querem desmatar a região. Em setembro do ano passado, três indígenas foram assassinados em apenas duas semanas. A própria comunidade teve que lançar mão de "guardiões" armados para se defender.

Há formas mais sutis de sufocar os grupos originários. Em São Paulo, por exemplo, muitas comunidades vivem inseguras porque boa parte de suas terras não foi regularizada ou tem pendências. Além disso, são enormes os impactos da crescente urbanização do estado, marcado por grandes projetos como ferrovias e estradas.

Se a mobilização atual para ajudar os yanomamis pode ser interpretada como uma mudança na forma como o país vai tratar os povos indígenas daqui para a frente, é bastante útil o lembrete de que o problema não se restringe a Roraima.

A criação de uma política que realmente proteja esses grupos tem que ser coordenada pelos políticos, mas também depende muito da pressão que a sociedade fizer sobre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário.

Isso vai acontecer?

Seria bom acreditar que a comoção causada pelas imagens do abandono dos yanomamis servirá de motivação para cobrar medidas que garantam dignidade aos indígenas de todo o país.

Infelizmente, porém, o resultado dessa aposta é bastante incerto.