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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Lula está errado até quando critica a taxa de juros mais alta do mundo?

Lula (PT) em inauguração de centro de especialidades no Rio de Janeiro - Reprodução/EBC
Lula (PT) em inauguração de centro de especialidades no Rio de Janeiro Imagem: Reprodução/EBC

Colunista do UOL

12/02/2023 04h00

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Há muitos temas controversos na vida nacional, mas para uma parcela considerável de especialistas, empresários, jornalistas e políticos brasileiros existe um ponto sobre o qual não resta nenhuma dúvida: tudo o que presidente Lula disser ou fizer sobre economia estará errado. Não importa o que seja.

Esse grupo até admite que o petista comente sobre meio ambiente, ação social, cultura (para alguns deles, nem isso), mas nunca sobre economia.

É o que se constata agora, quando Lula parece dizer o óbvio: o Banco Central não tem como justificar o fato de que o Brasil tem as taxas de juros mais escorchantes do planeta.

A cada vez que o presidente repete essa obviedade, a reação é pesada, recebe uma saraivada de críticas baseada em argumentos tortuosos.

Para uns, se Lula critica o Banco Central e seu presidente, Roberto Campos Neto, termina por criar uma turbulência que impede a queda dos juros. Nada indica, porém, que se ficar calado as taxas vão mudar.

Para outros, o presidente deveria se dedicar a criar uma agenda positiva, como, por exemplo, apressar a proposta do novo marco fiscal, em vez de criticar o BC. O governo está tratando disso, mas difícil é entender por qual motivo uma coisa exclui a outra.

Há ainda as críticas vindas daqueles que praticam a desonestidade intelectual mais abertamente, como é o caso do ex-juiz parcial e senador Sergio Moro (União-PR). Para ele, os juros altos (assim como todos os males da Terra) são culpa de Lula, mesmo tendo ele assumido o governo há menos de dois meses. É caso de terapia.

Ao criticar a taxa estratosférica, o presidente vocaliza tudo o que os brasileiros de bom senso estão pensando. Também acerta ao reclamar das tais notas técnicas do BC, muito mais críticas ao governo atual do que ao antecessor, que quebrou todos os recordes de irresponsabilidade fiscal para tentar se reeleger.

Lula também tem criticado o dogma de que para funcionar bem o Banco Central tem que ser independente. Mas não fez e nem fará (segundo dois de seus ministros afirmaram) nenhum movimento para mudar esse status.

O que ele quer é evitar que o Brasil se encaminhe para uma recessão sem que haja motivos reais para isso, apenas pelas barbeiragens da equipe de Campos Neto.

Para aqueles que automaticamente discordam de tudo que Lula diga ou faça na economia, quem tem razão nesse debate é o presidente do BC. Essa mesma turma concorda com a pressão do tal 'mercado', essa entidade com tantos porta-vozes e que, para muitos, deve guiar as ações do governo.

É uma espécie de síndrome de Estocolmo econômica, aquele distúrbio em que a vítima passa a defender ardorosamente o ofensor e se irrita pelo simples fato de vê-lo ser criticado.

A chiadeira de Lula contra Campos Neto e o BC não é somente oportuna.

É acima de tudo uma obrigação do presidente. Considerando que ele foi eleito para defender os interesses da maioria da população, e não apenas de meia dúzia de privilegiados do tal 'mercado', o petista não está fazendo nada além de cumprir o seu papel..