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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Em meio a escândalo das joias, ministro do TCU é precioso para Bolsonaro

30.jun.2015 - Foto de arquivo: ministro do TCU Augusto Nardes em entrevista à Reuters - Adriano Machado/Reuters
30.jun.2015 - Foto de arquivo: ministro do TCU Augusto Nardes em entrevista à Reuters Imagem: Adriano Machado/Reuters

Colunista do UOL

10/03/2023 11h43

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Às voltas com o escândalo das joias milionárias enviadas pelo príncipe da Arábia Saudita, Jair Bolsonaro tem muitos motivos para se preocupar. A forma como os "presentes" entraram no Brasil, sem que fossem declarados à Alfândega; o fato de ele ter-se apropriado do kit masculino; a insistência em liberar as joias femininas, avaliadas em R$ 16 milhões, fora do protocolo - tudo isso já é muito comprometedor.

Mas ainda mais cabeluda é a encrenca que pode resultar da pergunta: o que motivou os sauditas a enviar a Bolsonaro esses mimos de valor incomum, algo estratosférico até para os padrões de alguém como Donald Trump?

Essa investigação é praticamente obrigatória, diante do flagrante que os funcionários da Receita deram no ex-ministro Bento Albuquerque e seu auxiliar.

O senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da Comissão de Transparência, Fiscalização e Controle, quer apurar o caso e levanta a possibilidade de que as encomendas árabes possam ser uma "retribuição" ao fato de que o governo Bolsonaro vendeu a um fundo dos Emirados Árabes uma refinaria da Petrobras pela metade do preço.

Como se sabe, os Emirados Árabes são um país diferente da Arábia Saudita, de onde foram enviadas as joias. Mas mesmo que não seja esse o caminho, é certo que a escavação do caso pode trazer à superfície fósseis indesejados para Bolsonaro.

Diante desse imbroglio, com tantas notícias negativas nos últimos dias, não deixa de ser alentador para o ex-presidente ver que o caso esteja sendo relatado no Tribunal de Contas da União (TCU) pelo ministro Augusto Nardes, alguém que é seu fã.

Nardes manifestou essa admiração por Bolsonaro em áudio em grupo de mensagem no fim do ano passado, com empresários do agronegócio, em que defendeu um golpe de Estado. No diálogo, depois de comentar sobre um certo movimento na caserna, afirmou: "Somos hoje uma sociedade conservadora, que não aceita as mudanças que estão sendo impostas, e que despertou, isso é muito importante". Bolsonaro seria, segundo ele, a pessoa certa para conduzir a nação, apesar de ter perdido a eleição.

Depois que a Folha de S. Paulo divulgou o áudio, Nardes alegou problemas de saúde para se licenciar do TCU. Voltou na surdina, sem que nenhuma punição lhe fosse imposta, e não teve a iniciativa de se declarar impedido ao ser sorteado como relator do caso das joias.

O resultado dessa esculhambação é a decisão anunciada ontem. Em meio a algumas críticas clichês, Nardes permite que o ex-presidente mantenha consigo joias que não são dele, pertencem ao Estado brasileiro.

Em meio a tantas notícias ruins, a atuação condescendente de Nardes é uma verdadeira preciosidade para Bolsonaro.

A aberração tem sido criticada nos bastidores do tribunal pelos seus próprios pares. Felizmente deverá ser revertida na sessão da próxima quarta-feira.

O episódio serviu ao menos para lembrar que o diálogo golpista de Nardes não deve passar em branco.

Ele não pode continuar a atuar no TCU como se nada tivesse acontecido.