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Haddad tenta harmonia com BC, mas não há retorno, diz ex-diretor do banco
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Praticamente ninguém esperava uma mudança radical na reunião de ontem do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), mas ao menos uma sinalização de que a taxa básica de juros poderia ser reduzida em futuro próximo. Ao contrário, nas justificativas para a manutenção da Selic em 13,75% o banco dá pistas de que pode até mesmo subir esse patamar. Para o economista Tony Volpon, que foi diretor do BC entre 2015 e 2016, o BC poderia chegar a um meio-termo.
Ele acredita que, além do questionamento puramente técnico, a decisão pode criar um impasse na relação com o governo. "Essa postura prejudica muito o ministro Fernando Haddad, que está querendo criar um ambiente colaborativo com o BC para se blindar de fogo amigo", disse Volpon à coluna. "Mas parece que o BC não quer jogar junto. Haddad tentar manter harmonia mas não tem reciprocidade".
Para o ex-diretor da instituição, deveria haver um encontro de expectativas entre o BC e o governo. "O banco tem que explicar claramente quais são as condições para baixar os juros. Não pode ficar em uma torre de marfim, autonomia não é independência", diz ele. "O Federal Reserve (Fed, versão americana do Banco Central) tem autonomia desde a fundação, mas o Jerome Powell (presidente do Fed) fica o tempo todo se explicando para a sociedade".
Volpon destaca o pragmatismo do Fed, que antes sinalizava uma sequência de altas nos juros e agora aponta para apenas uma alta, para depois "pousar", em clara mudança de rota. Ele imaginou que o Copom fosse pelo mesmo caminho.
Para melhorar as condições de controle dos juros, o ex-diretor do BC acredita que o governo poderia antecipar o anúncio da meta de inflação, que pode ser feito até junho, e também da apresentação da nova âncora fiscal.
Para o economista, a expectativa de inflação não está baseada no andamento da economia real e sim nos medos na mudança de regime e descontrole fiscal futuro, meras possibilidades e não algo verdadeiro.
"Há argumentos técnicos para manter postura cautelosa, mas abrir possibilidade de que pode haver um corte de juros mais rápido do que se imaginava há um tempo", acredita Volpon.
Ele acredita que a decisão do BC deveria levar em conta os esforços do ministro da Fazenda. "É preciso dar voto de confiança no que Haddad está tentando fazer, nem se trata de achar que ele vá ter sucesso ou não", explica.
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