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'Barraca não é lar, mas onde está a moradia?', questiona padre Júlio
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Padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo da Rua de São Paulo, contestou a justificativa do prefeito Ricardo Nunes (MDB) para retirar barracas de pessoas que vivem nas calçadas do Centro da cidade. Nunes disse "que rua não é endereço e barraca não é lar", além de argumentar que seus ocupantes ficam expostos ao sol e à chuva.
"Barraca não é lar, mas onde está a moradia?", questionou padre Júlio, em entrevista à coluna.
O religioso não aceita a explicação do prefeito de que as pessoas em situação de rua podem ir para os Centros de Acolhida municipais: "Albergue também não é moradia. A pessoa tem horário para entrar e sair, não pode receber visitas, a refeição é marmitex, o lugar é infestado de pernilongos. Isso é moradia?".
Também não vê como solução as chamadas casas modulares. "Só vai para essas casas quem tem menos de dois anos na rua e é preciso já estar na rede de atendimento", diz o padre Júlio. "Quem está na barraca não é elegível pra esse programa".
Sobre a afirmação de Ricardo Nunes de que está ampliando o número de vagas nos albergues e fazendo mais casas modulares, ele critica, dizendo que nesse caso o prefeito aplica um "gerúndio infinto".
Equipes da prefeitura têm retirado as barracas e pertences de pessoas em situação de rua com base na decisão da Justiça que, na sexta-feira (31), derrubou liminar que impedia essa ação. O coordenador da Pastoral do Povo da Rua não acha que esse despacho tenha mudado radicalmente o quadro.
"Enquanto vigorou, a liminar só tornou mais discreta a ação da prefeitura. Mas eles continuaram fazendo. Essa é uma prática regular, recorrente, contínua", diz padre Júlio. "Toda essa história de que as barracas são tiradas com cuidado e que os donos recebem o contralacre é mentira. Eles recolhem de forma violenta e levam para o lixo".
Padre Julio Lancellotti acredita que a solução para o problema é a locação social. "Mas algo que não seja institucional, a própria pessoa tem que escolher", diz ele. "Uma unidade de hotel como a Prefeitura está pagando hoje custa R$ 4 mil por mês. Os grupos familiares com esse dinheiro resolvem essa questão muito melhor, porque todas essas ações são de tutela".
O religioso não concorda com o argumento do prefeito de que as barracas estão obstruindo a passagens de pedestres. "Quem teve problema de passar na calçada da Luz, que é uma das maiores de São Paulo? É uma desculpa para ganhar adeptos", afirma. "Por trás de tudo isso, qual o jogo de interesse? A quem eles beneficial? É um interesse da especulação imobiliária e de fazer um jogo de higienismo".
Para o religioso, se houvesse alguma alternativa propositiva para essas pessoas, elas aceitariam. "Não é agradável morar em uma barraca na rua, sem banheiro", diz padre Júlio.
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