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Sergio Moro reclama da PGR por ser submetido a métodos de Sergio Moro
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É um clichê das redes sociais dizer que "o roteirista do Brasil está inspirado" sempre que surge um encadeamento de fatos surpreendente em casos de repercussão nacional. Também é recorrente afirmar que o "mundo não gira, ele capota" quando há reviravolta radical em alguma história. Desde ontem, as duas expressões voltaram a ser usadas à exaustão no mundo virtual, dessa vez tendo o ex-juiz e senador Sergio Moro como protagonista,
O tal roteirista do Brasil bateu recorde de criatividade quando acrescentou aos percalços de Moro a denúncia feita ao Supremo Tribunal Federal (STF) pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-juiz. A vice-procuradora-geral da República Lindôra Araújo o acusa de calúnia e difamação, por causa de um vídeo que circulou nas redes em que o senador aparece sugerindo que o ministro Gilmar Mendes, do STF, concede habeas corpus em troca de dinheiro.
Na gravação, alguém diz a Moro: "Está subornando o velho". E ele responde: "Não, isso é fiança. Instituto para comprar um habeas corpus do Gilmar Mendes".
Na denúncia feita ao STF, Lindôra cogita prisão e perda de mandato de senador, caso ele seja condenado a mais de quatro anos de detenção.
Acostumado com o papel de caçador Moro assumiu a condição de caça e gravou um vídeo para se defender. O conteúdo da peça se parece muito com as reclamações feitas pelos réus da operação Lava Jato nos tempos em que ele era titular da 13ª Vara Federal de Curitiba.
Com sua oratória trôpega, o senador usa a surrada desculpa de que a frase sobre Gilmar Mendes foi "retirada de contexto" e que tudo não passou de uma brincadeira. Difícil imaginar contextualização que justifique uma acusação tão irresponsável.
Torcendo a lógica, Moro teve a coragem de dizer que a fala, que admite ser infeliz, "não contém nenhuma acusação contra qualquer ministro". Se dizer que um integrante do STF vende habeas corpus não é uma acusação, é preciso que o ex-juiz esclareça o que poderia ser considerado como tal.
A seguir, reclama de que ele, um senador da República, foi denunciado em três dias, tempo que considera curto, sem sequer ser ouvido. Queixa semelhante às que fizeram personagens julgados nos seus tempos de operação Lava Jato. Como Rodrigo Tacla Duran, por exemplo, que teve a prisão decretada sem ser chamado a prestar depoimento. Isso aconteceu com muitos outros acusados.
Moro também reclama da publicação nas redes sociais do vídeo em que faz menção a Gilmar Mendes. Diz que a divulgação foi feita por "pessoas inescrupulosas". Uma fala muito parecida com a do presidente Lula e da ex-presidente Dilma Rousseff, que tiveram vazado em 2016 um diálogo que o magistrado interceptou ilegalmente. Com esse expediente criminoso de Moro, Lula foi impedido de assumir a Casa Civil do governo Dilma.
Para fechar com chave de ouro, Moro recorre à surrada afirmação de que vivemos em "tempos sombrios", já que a liberdade e o "devido processo" estão sendo deixados de lado. Impossível não se espantar que seja logo ele a dizer isso, que no período em que era juiz da Lava Jato combinou sentença com os acusadores do Ministério Público, decretou conduções coercitivas sem motivo e prisões sem prova.
Apesar de imprimir tons de tragicomédia à realidade brasileira, dificilmente a denúncia da PGR resultará em punição tão drástica quanto prisão ou perda de mandato.
Mas ao menos serviu para reforçar mais uma vez o tal clichê das redes sociais segundo o qual o mundo não gira, ele capota.
Sergio Moro que o diga.
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