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Defesa de Bolsonaro não explica denúncia mais grave contra Michelle
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Durante 36 minutos da noite de ontem, três advogados e o ex-secretário de Comunicação Fábio Wajngarten (também advogado) expuseram à imprensa explicações sobre o uso de dinheiro vivo para pagar contas de Michelle Bolsonaro quando ela ainda era primeira-dama. A coletiva foi motivada por matérias do jornalista Aguirre Talento, publicadas no UOL, que revelaram dados que constam de investigação da Polícia Federal.
Wajngarten, que se tornou o porta-voz de Jair Bolsonaro desde que ele saiu da Presidência, explicou que o cartão corporativo pessoal do ex-presidente nunca foi usado; que gastos familiares com pequenos fornecedores eram pagos em espécie com dinheiro oriundo de sua conta pessoal (a justificativa para esse expediente foi a preservação da segurança); que Michelle usava o cartão de crédito de uma amiga para fazer compras porque Bolsonaro é "pão-duro" e que de uma maneira geral os valores quitados dessa forma eram irrisórios.
Na ocasião, o ex-secretário também admitiu que Bolsonaro abriu conta no exterior, mas explicou o fato por uma precaução do ex-presidente, que apostava em uma piora da economia do país e assim imaginava estar protegendo suas economias (em torno de R$ 600 mil).
Porém, do tempo gasto para explicar a inusual forma de pagamento de despesas usada pelo clã Bolsonaro, uma parte irrisória foi usada para tratar da denúncia mais grave.
Segundo a Polícia Federal, uma empresa com contratos públicos na gestão anterior fez uma série de transferências no valor de R$ 25.360 a um militar da Ajudância de Ordens da Presidência da República, o segundo-sargento Luis Marcos dos Reis. Depois de sacar o dinheiro, Reis pagou despesas do cartão de crédito usado por Michelle Bolsonaro em pelo menos três ocasiões.
Além disso, o militar fez ao menos 12 depósitos em dinheiro em conta de uma tia da então primeira-dama.
A empresa que generosamente arcou com os boletos da amiga de Michelle é a Cedro do Líbano Comércio de Madeiras e Materiais para Construção, contratada pela Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) - um conhecido ninho de escândalos de corrupção, dominado pelo Centrão.
Em suma: as investigações apontam que uma empresa contratada pelo governo federal pagou contas da ex-primeira-dama.
A essa denúncia, a mais grave de todas, Wajngarten dedicou pouquíssimo tempo. Na primeira vez em que foi perguntado sobre isso, o ex-secretário falou como se o segundo-sargento Luis Marcos dos Reis tivesse agido por vontade própria.
"Estamos na defesa do [ex] presidente da República. Eu não sei quem é essa pessoa, nunca convivi com ela, o presidente também não", afirmou Wajngarten, para em seguida jogar mais uma responsabilidade nas costa do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que hoje está preso: "A cadeia de hierarquia era o presidente e o tenente-coronel Mauro Cid".
Na segunda vez que foi perguntado sobre o envio de dinheiro de uma empresa para pagar despesas da primeira-dama, Wajngarten voltou a driblar o assunto. "Não há nenhuma relação, nenhum depósito de nenhuma empresa para a conta do presidente Jair Bolsonaro", disse.
Trata-se de um sofisma, uma meia verdade.
A Polícia Federal não afirma que haja depósito da empresa na conta de Bolsonaro, mas sim que a Cedro do Líbano enviou dinheiro para o sargento da Ajudância de Ordens da Presidência e este, por sua vez, pagou as contas de Michelle.
Com esse jogo de palavras, a defesa de Bolsonaro mais uma vez lança o peso das suspeitas sobre um de seus auxiliares. Isso ocorreu várias vezes nos últimos anos.
O expediente pode servir para satisfazer apoiadores mais fanáticos, que de maneira geral se contentam com pouco.
Não será útil, porém, para convencer a PF de que o depósito da empresa contratada pelo governo federal que foi usado para pagar as contas de Michelle seja algo republicano, com o que Bolsonaro não tivesse nenhuma relação.
Diante das autoridades, Fábio Wajngarten e os advogados terão que se esforçar bem mais.
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