Topo

Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Vara da Lava Jato precisa ser despolitizada para fazer justiça

Colunista do UOL

23/05/2023 16h29

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Os que são supersticiosos talvez atribuam a algum tipo de maldição as seguidas encrencas ocorridas na 13ª Vara Federal de Curitiba, palco da famosa operação Lava Jato. Em parâmetros racionais, é difícil explicar a ocorrência de tantas barbeiragens e agressões ao devido processo legal concentradas em uma mesma repartição da Justiça. Quando se imaginava que com a saída de Sergio Moro as coisas voltariam ao normal, constatamos que as confusões continuam.

Nos últimos anos, o Brasil acompanhou a desconstrução do herói Moro, que de grande paladino da luta anticorrupção foi desmascarado e mostrado como ator político travestido de juiz. Os diálogos entre o ex-magistrado e os integrantes da força-tarefa do Ministério Público Federal, trazidos à luz por um hacker e publicados pelo site The Intercept, expuseram em detalhes a parceria ilegal entre juiz e acusação, além das ilegalidades decorrentes disso.

Moro largou a toga, tornou-se ministro de Jair Bolsonaro - presidente que ajudou a eleger ao mandar Lula para a prisão -, teve sua atuação reconhecida como parcial pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e acabou por eleger-se senador.

Nos últimos meses, a repartição que já foi comandada por Moro mudou radicalmente de orientação. Desde que assumiu, o juiz Eduardo Appio não poupou críticas aos métodos da operação Lava Jato e a seu antecessor. Classificou como ilegal a prisão de Lula, começou a revisar vários processos e se dispôs a ouvir o testemunho de Rodrigo Tacla Duran, advogado que acusa Moro e Deltan Dallagnol de participarem de um esquema de propinas para garantir a liberdade de acusados.

Ou seja: saiu Moro, entrou o anti-Moro.

Agora, Appio é acusado de ligar para um advogado sócio de Rosângela Moro para confirmar a suspeição de seu pai, o desembargador Marcelo Malucelli, revisor dos processos da Lava Jato. Por causa disso, foi afastado da 13ª Vara Federal de Curitiba.

Seria o momento desse importante espaço da Justiça Federal do Paraná finalmente passar a ser conduzido por alguém equidistante.

Mas eis que hoje foi indicada para assumir aquela unidade judiciária a juíza Gabriela Hardt, que atuou várias vezes como substituta de Moro.

Foi ela, inclusive, que condenou Lula em 2019 a 12 anos e 11 meses de prisão no caso do sítio de Atibaia. A condenação - cuja sentença teve um trecho plagiado de um texto de Moro - foi anulada pelo STF.

Alguns diálogos expostos na Vaza Jato sugerem que Hardt tinha a mesma parceria com a acusação que era cultivada pelo juiz titular.

Ou seja, a assunção da juíza mantém a aura de politização sobre a 13ª Vara Federal de Curitiba.

Assim, como acontece há muitos anos, muitos brasileiros continuarão duvidando que naquele lugar seja produzida a matéria-prima de que é feito o Estado de Direito: justiça.