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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Parte da imprensa espanhola é cúmplice do racismo contra Vini Jr.

Vinícius Jr. aponta para torcedor após sofrer ofensas racistas em Valencia x Real Madrid. - Quality Sport Images/Getty Images
Vinícius Jr. aponta para torcedor após sofrer ofensas racistas em Valencia x Real Madrid. Imagem: Quality Sport Images/Getty Images

Colunista do UOL

22/05/2023 16h02

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Na sequência de fatos abjetos relacionados a esse último episódio de racismo contra o jogador Vinícius Jr., é preciso destacar o papel da imprensa espanhola. Surpreende a forma como muitos jornalistas resistiram a colocar o craque do Real Madrid no papel de vítima — que realmente é —, preferindo dar importância excessiva à expulsão do jogador ou à discussão que ele teve com a torcida.

Um dos repórteres chegou a perguntar a Vini Jr. depois da partida se ele pretendia pedir desculpas à torcida do Valência por ter discutido com alguns da arquibancada. Isso mesmo: o alvo do racismo deveria, segundo esse jornalista, desculpar-se com aqueles que o chamaram de "macaco".

O atleta respondeu irritado, obviamente refutando essa possibilidade.

Outro jornalista tentou, na entrevista coletiva, fabricar os próprios fatos. Teimou com o técnico do Real, Carlo Ancelotti, que a torcida tinha gritado para o jogador brasileiro a palavra "tonto", e não "mono" (macaco). Ancelotti restabeleceu a verdade. Afirmou categoricamente que se tratou de um caso de racismo.

O treinador, aliás, recusou-se a ceder à insistência de uma repórter que tentou abordar detalhes esportivos da partida. "Não quero falar de futebol", disse Ancelotti."Quero falar do que aconteceu aqui, que é mais importante do que uma derrota".

Há outros sinais dessa tentativa de banalizar o racismo. Como, por exemplo, o fato de o principal jornal espanhol, El País, ter dedicado espaço minúsculo à notícia na primeira página da edição de hoje.

Os meios de comunicação são um dos principais instrumentos para combater o racismo. Quando a imprensa não dá ao problema a proporção devida e abdica da crítica, fica mais fácil para a sociedade aceitar essa anomalia como comportamento normal.

Os ataques a Vini Jr. evidenciam que os espanhóis têm uma questão muito séria a enfrentar.

O problema não é de solução fácil, mas sem dúvida passa pela punição rigorosa dos torcedores preconceituosos, algo que até o momento não se viu. A leniência de La Liga e das autoridades judiciárias chega a ser irritante.

Para que os racistas sejam punidos, é fundamental que a imprensa espanhola os mostre como realmente são: criminosos.

Enquanto parte dos jornalistas agir como cúmplices, normalizando o racismo na Espanha, Vini Jr. continuará a enfrentar a barbárie praticamente sozinho e seus agressores permanecerão urrando xingamentos nas arquibancadas.