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Chapa Lula-Alckmin assusta o bolsonarismo e parte da esquerda

19 dez. 2021 - Geraldo Alckmin (sem partido), ex-governador de São Paulo, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se cumprimentam no restaurante A Figueira Rubaiyat, em São Paulo, durante o jantar do grupo Prerrogativas - Ricardo Stuckert/Imprensa Oficial de Luiz Inácio Lula da Silva/AFP
19 dez. 2021 - Geraldo Alckmin (sem partido), ex-governador de São Paulo, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se cumprimentam no restaurante A Figueira Rubaiyat, em São Paulo, durante o jantar do grupo Prerrogativas Imagem: Ricardo Stuckert/Imprensa Oficial de Luiz Inácio Lula da Silva/AFP

Colunista do UOL

16/01/2022 13h59

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* Cesar Calejon

Parecia improvável que um único movimento no tabuleiro do xadrez político brasileiro pudesse desagradar, simultaneamente, grupos que assumem posições absolutamente antípodas na vida sociopolítica nacional: bolsonaristas, que estão à extrema direita no espectro político e ideológico, e a parcela progressista da população que se identifica mais à esquerda do que geralmente orienta o PT.

Contudo, é exatamente isso o que a possível chapa Lula-Alckmin vem fazendo desde que começou a ser cogitada, há alguns meses.

Particularmente, acredito que todas as avaliações, no que concernem as ciências sociais, devem transcender a dimensão maniqueísta que as separa entre boas ou ruins, certas ou erradas etc. As searas sociais são complexas, contraditórias e, portanto, exigem análises dialéticas que possam lidar com essas características. Neste caso, especificamente, existem fatores que oferecem possíveis riscos e benefícios para ambos os lados.

Vejamos: nas últimas eleições presidenciais (2018), Alckmin obteve 5.096.349 votos concorrendo pelo PSDB, 4,76% do total válido e o pior desempenho da história do partido. Lula, apesar de ter aparecido na liderança considerando as intenções de voto, foi impedido de disputar o pleito.

Quatro anos depois, o petista aparece na liderança absoluta da corrida presidencial, enquanto o agora ex-tucano, apesar de ter desidratado politicamente ao longo da última década, segue contando com algum capital político, sobretudo no interior do Estado de São Paulo.

Nessa medida, dois aspectos são importantes para Lula tendo em vista a adesão de Alckmin como vice: (1) tornar a sua candidatura mais palatável para uma boa parcela da direita liberal brasileira, o que, além de facilitar ainda mais a sua eleição, poderá garantir a governabilidade do seu futuro governo, e (2) abrir espaço para que Fernando Haddad, que sem Alckmin na disputa lidera o cenário, seja eleito para o governo do maior estado da federação.

Para Alckmin, o fator positivo é evidente: evitar um possível esquecimento definitivo e assumir o segundo principal cargo da República, após ser traído por João Doria e apenas quatro anos depois de sequer alcançar a marca de 5% dos votos na eleição presidencial. Por outro lado, ele abriria mão de tentar assumir o governo do Estado de São Paulo, cargo que já ocupou muitas vezes.

Já para o ex-presidente Lula, os riscos de ter Alckmin como vice são consideráveis, porque o petista estaria a um golpe de Estado de entregar, novamente, o comando do país para uma figura política que jamais teria condição de se eleger pela via democrática. Exatamente como aconteceu com Michel Temer.

Assim, a possível chapa Lula-Alckmin assusta os dois grupos, bolsonaristas e parte da esquerda, por razões distintas: o primeiro teme, com razão, que essa aliança signifique, ainda mais, a derrota certa do atual presidente. O segundo, por sua vez, sente que Alckmin como vice significa um risco demasiadamente alto para ser administrado.

* Cesar Calejon é jornalista, com especialização em Relações Internacionais pela FGV e mestrando em Mudança Social e Participação Política pela USP (EACH). É escritor, autor dos livros A Ascensão do Bolsonarismo no Brasil do Século XXI (Kotter) e Tempestade Perfeita: o bolsonarismo e a sindemia covid-19 no Brasil (Contracorrente).