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Privatizações são o 'fim da feira' do governo Bolsonaro

Ministro da Economia Paulo Guedes - Edu Andrade/Ascom/ME
Ministro da Economia Paulo Guedes Imagem: Edu Andrade/Ascom/ME

Colunista do UOL

01/06/2022 19h34

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* Cesar Calejon

Em ampla medida, o bolsonarismo ascendeu e foi tolerado pelas elites políticas e econômicas nacionais, bem como por grupos internacionais que estão acostumados a exercerem ingerência no jogo geopolítico do Brasil, por um aspecto central da sua gestão frente ao governo federal: a agenda neoliberal.

Exatamente por este motivo, a despeito dos resultados desastrosos que Paulo Guedes entregou à nação nos últimos três anos e meio, o ministro da Economia bolsonarista segue no cargo e sendo poupado de críticas mais duras. Neste contexto, as privatizações que o governo pretende avançar nos próximos meses são uma espécie de "fim de feira" do bolsonarismo.

Hoje (1º), o Tribunal de Contas da União (TCU) autorizou o governo a realizar o leilão da sétima rodada de aeroportos, que transferirá para a iniciativa privada quinze terminais, entre eles, o de Congonhas, em São Paulo. Ontem (31), o Ministério de Minas e Energia formalizou o pedido de inclusão da Petrobras no programa de privatizações.

Também estão sendo cogitadas as privatizações dos Correios, da Eletrobras e de outras empresas estratégicas para o Brasil. Algumas, inclusive, que geram lucros e, portanto, ajudam a financiar o estado nacional.

Sob a falácia da "austeridade fiscal" e do Teto de Gastos, a direita liberal tem conseguido avançar três posições importantíssimas às suas pretensões e extremamente danosas à população: (1) o aumento do desemprego e a consequente alteração da relação de forças entre empregados e empregadores, (2) a debacle do Estado e a abertura de novos setores a serem explorados pela iniciativa privada e o (3) encaminhamento de boa parte das famílias, sobretudo das mais empobrecidas, para as mãos do mercado financeiro.

Enquanto isso, um levantamento feito pela IFI (Instituição Fiscal Independente), órgão de assessoramento do Senado, com base em um decreto publicado na terça-feira, no Diário Oficial da União, demonstra que um bloqueio de R$ 8,2 bilhões de recursos no Orçamento deste ano, que foi anunciado no fim de maio pelo Ministério da Economia, deve afetar, principalmente, os ministérios de Ciência e Tecnologia, Educação, Saúde e Defesa. Ou seja, todas as principais áreas estratégicas do país.

Somados, os quatro ministérios serão responsáveis por R$ 6,3 bilhões do bloqueio, ou 78% do total, o que significa que o dinheiro não poderá ser gasto pelas pastas. Neste sentido, a xepa bolsonarista sai ao custo do desmonte final do pacto constitucional brasileiro, sustentado a duras penas ao longo de décadas.

Ainda que Bolsonaro seja derrotado nas urnas em outubro, a sanha neoliberal de seu governo promete causar perdas e danos que deverão ser extremamente difíceis de contornar no curto prazo.

* Cesar Calejon é jornalista, com especialização em Relações Internacionais pela FGV e mestrando em Mudança Social e Participação Política pela USP (EACH). É escritor, autor dos livros A Ascensão do Bolsonarismo no Brasil do Século XXI (Kotter), Tempestade Perfeita: o bolsonarismo e a sindemia covid-19 no Brasil (Contracorrente) e Sobre Perdas e Danos: negacionismo, lawfare e neofascismo no Brasil (Kotter).