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Polarização PT-PSDB em São Paulo é fundamental para reerguer a democracia

Rodrigo Garcia (PSDB) e Tarcísio de Freitas (Republicanos) no debate da Band - Renato Pizzutto / Band
Rodrigo Garcia (PSDB) e Tarcísio de Freitas (Republicanos) no debate da Band Imagem: Renato Pizzutto / Band

Colunista do UOL

09/08/2022 17h54

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* Vinícius Rodrigues Vieira

Vencer o bolsonarismo depende necessariamente do resultado das eleições para governador em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país. Isso porque não basta que a oposição conquiste o Planalto — neste atual estágio, a chapa Lula-Alckmin é a mais habilitada a cumprir tal missão.

É necessário, ainda, impedir que o grupo político chefiado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) fique longe de uma máquina estatal significativa. Controlar o orçamento paulista e cargos comissionados no governo do Estado confere musculatura para qualquer partido e/ou movimento se cacifar à presidência.

Assim, o primeiro debate de candidatos a governador, transmitido e organizado pela Band no último domingo (7), foi um alívio para aqueles que veem nas franjas bolsonaristas uma séria ameaça à democracia — seja agora, neste pleito, seja no longo prazo, liderando uma eventual oposição a um provável governo Lula-Alckmin. Isso porque a performance do líder das pesquisas, Fernando Haddad (PT), e do candidato à reeleição, Rodrigo Garcia (PSDB), foi muito superior àquela do filhote do bolsonarismo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

O despreparo de Freitas ficou evidente no uso recorrente de uma colinha dos bastidores. De perfil técnico e egresso das fileiras militares, o candidato está contaminado aos olhos de parte do eleitorado por ser recém-chegado ao Estado de São Paulo e, sobretudo, por ter como padrinho político o impopular habitante do Alvorada.

Freitas esquivou-se sem sucesso dos ataques bem-feitos de Vinicius Poit, candidato do Novo, que expôs o apoio de figuras como Eduardo Cunha (PTB) e Valdemar da Costa Neto (PR) à chapa bolsonarista em São Paulo. Apenas pesquisas a serem feitas em breve, porém, poderão confirmar se o eleitorado paulista foi impactado pela superioridade de Haddad e Garcia no debate. No cenário atual, Freitas está tecnicamente empatado com o governador.

Imagine um cenário em que, defenestrados do Planalto, bolsonaristas avançam como gafanhotos para (des)governar São Paulo sob o comando de Freitas. Se for aplicado o modelo bolsonarista no Estado, a educação vai ficar a Deus dará nas mãos de pastores e fanáticos evangélicos. Mesmo autônomas, as universidades estatuais paulistas podem sofrer o baque, reduzindo, assim, a já combalida capacidade científica nacional como um todo.

Freitas pode ter tido um saldo positivo à frente do Ministério da Infraestrutura. Sua campanha, porém, deve ser avaliada à luz do (des)governo Bolsonaro e suas ameaças à democracia. A favor do candidato bolsonarista ao governo do Estado está o discurso de que PSDB e PT, juntos, dão um abraço de afogados, envolvidos em escândalos de corrupção, fator que, nesta campanha, está secundário em relação a 2018.

No fundo, Freitas disputa com Garcia não apenas uma vaga num segundo turno que muito provavelmente contará com Haddad. Trata-se de uma batalha entre o bolsonarismo e uma direita que, embora reúna filhotes da ditatura entre seus quadros, está disposta a respeitar as urnas. Caso reeleito, Garcia pode migrar para o União Brasil, partido cuja árvore genealógica remete à Arena, agremiação que sustentou o regime autoritário de 64.

Nesse cenário, Garcia se cacifaria para disputar o Planalto em 2026. Um partido conservador-liberal de fato, reunindo uma direita civilizada, e um bloco de centro-esquerda liderado pelo PT e o PSB: eis a combinação que pode nos afastar de uma ruptura democrática no longo prazo.

* Vinícius Rodrigues Vieira é doutor em relações internacionais por Oxford e leciona na Faap e em cursos MBA da FGV.