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Entrevista de Lula ao JN pode definir a eleição

O ex-presidente Lula (PT) fala em evento de campanha - Ricardo Stuckert
O ex-presidente Lula (PT) fala em evento de campanha Imagem: Ricardo Stuckert

Colunista do UOL

25/08/2022 15h00

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* Cesar Calejon

No começo desta semana, Jair Bolsonaro abriu o ciclo de entrevistas do Jornal Nacional com os principais candidatos à Presidência da República. Em apenas quarenta minutos, o atual presidente mentiu dezenas de vezes e contou com uma postura cordata dos apresentadores William Bonner e Renata Vasconcellos, que conduziram a entrevista.

Bolsonaro disse que nunca xingou os ministros do STF, que jamais imitou pacientes com falta de ar na pandemia e que a economia anda muito bem, para citar apenas alguns exemplos. Incapazes de adverti-lo, Bonner e Renata simplesmente deixaram o processo seguir. Hoje, com a entrevista ao Jornal Nacional, Lula pode, além de responder as perguntas que lhe serão feitas, utilizar o espaço para desmentir as falácias de Bolsonaro, o que seria trágico para a campanha bolsonarista.

Por outro lado, caso cometa erros e não tenha um bom desempenho, o ex-presidente pode comprometer a sua campanha de forma a acirrar a competição no momento crucial da disputa. Neste contexto, a entrevista de hoje do ex-presidente é, até aqui, o movimento mais importante de todo o período eleitoral e pode definir a eleição, efetivamente.

Bolsonaro se sentiu tão respaldado pela postura dos âncoras da Globo que passou a reavaliar a sua participação nos outros debates. Um dia após a entrevista com Bonner e Renata, a Rede TV foi informada de que ele não participaria da iniciativa organizada pela emissora.

Coincidentemente, começa amanhã a propaganda eleitoral gratuita na televisão e Lula conta com o maior tempo de fala entre todos os candidatos: duas inserções diárias de 3 minutos e 21 segundos às terças, quintas e sábados, além de algo entre sete e oito peças publicitárias diárias de meio minuto cada durante a programação dos canais abertos de televisão. Já a campanha bolsonarista se apresentará com 2 minutos e 42 segundos para as propagandas fixas e seis inserções de trinta segundos.

Neste sentido, a campanha de Lula conta com uma vantagem significativa para abordar aspectos essenciais, que, a meu ver, desmentiriam Bolsonaro e anulariam o efeito da colher de chá com mel que lhe foi oferecida na segunda.

Ao alinhar o conteúdo da entrevista de hoje no JN com as mensagens que serão avançadas pela sua campanha na televisão e via redes sociais, a campanha petista poderia expor a estratégia do estelionato eleitoral que vem sendo conduzida pelo bolsonarismo, além de ressaltar a crise socioeconômica, política e sanitária que o governo Bolsonaro catalisou no Brasil e utilizar dados práticos e de fácil compreensão para demonstrar as conquistas obtidas pela gestão de Lula.

A pressão será grande, a audiência deverá ser recorde e, muito provavelmente, Lula não contará com o mesmo tipo de postura que Bonner e Renata adotaram com Bolsonaro. Essa quinta-feira marca o início do que deve ser o clímax dessas eleições ao longo das próximas semanas.

* Cesar Calejon é jornalista, com especialização em Relações Internacionais pela FGV e mestrando em Mudança Social e Participação Política pela USP (EACH). É escritor, autor dos livros A Ascensão do Bolsonarismo no Brasil do Século XXI (Kotter), Tempestade Perfeita: o bolsonarismo e a sindemia covid-19 no Brasil (Contracorrente) e Sobre Perdas e Danos: negacionismo, lawfare e neofascismo no Brasil (Kotter).