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Ataques em Aparecida escancaram a natureza autoritária do bolsonarismo

O presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição, e Tarcísio Freitas, que concorre ao governo de São Paulo, durante missa na Basílica de Aparecida - Felipe Pereira/UOL
O presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição, e Tarcísio Freitas, que concorre ao governo de São Paulo, durante missa na Basílica de Aparecida Imagem: Felipe Pereira/UOL

Colunista do UOL

13/10/2022 16h16

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* Cesar Calejon

A Catedral Basílica Santuário Nacional de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, também conhecida como Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, é o principal templo religioso católico do país. Ontem (12), os ataques protagonizados por bolsonaristas contra fiéis católicos, membros da imprensa e figuras eclesiásticas escancararam, novamente, a natureza autoritária e intolerante do bolsonarismo.

Consumindo bebidas alcoólicas e visivelmente transtornados, bolsonaristas chegaram a ameaçar fisicamente as pessoas que se encontravam no local, trabalhando ou professando a fé.

A confusão chegou, propriamente, até dentro do Santuário e o padre Eduardo Ribeiro foi interrompido pelos seguidores de Bolsonaro. Vaiando e entoando palavras de ordem, os bolsonaristas tentaram, sem sucesso, atacar com o tradicional coro de "mito, mito". Ribeiro viu-se obrigado a pedir silêncio e salientar o óbvio: "(...) viemos aqui para rezar".

Na principal missa, o arcebispo da Arquidiocese, Dom Orlando Brandes, ressaltou que o país precisa "vencer muitos dragões", enfatizando que "(...) temos o dragão do ódio, que faz tanto mal. E o dragão da mentira, e a mentira não é de Deus, é do maligno. O dragão do desemprego, o dragão da fome. O dragão da incredulidade".

Assim, o bolsonarismo deixa claro que não tolera a diversidade, seja social, política, econômica ou religiosa. O objetivo precípuo da sua atuação é consolidar uma espécie de teocracia miliciana ultraliberal, a serviço do agronegócio e do setor financeiro internacional. Vale notar que, a essa altura, os bolsonaristas se insurgem não somente contra o PT, a esquerda, o "comunismo" ou o "marxismo cultural".

O nível de ódio destilado entre os seus seguidores fez com que qualquer proposta de emancipação popular (combate à fome, desemprego, desigualdade social etc.) ou pluralidade social desperte a cólera dos bolsonaristas e gere ataques, muitas vezes, mortais, como presenciamos em diferentes ocasiões ao longo dos últimos meses.

Nesse contexto, inicialmente, os inimigos eram os petistas. Depois, toda a esquerda, a imprensa, a direita liberal, ex-aliados do governo e até os católicos. Ou seja, todas e todos que não estejam, automática e incondicionalmente, aliados ao projeto teocrático miliciano e ultraliberal do bolsonarismo.

Dadas as devidas idiossincrasias culturais e históricas, projetos totalitários muito semelhantes ao que preconiza o bolsonarismo foram tentados durante a primeira metade do século passado. O trágico resultado foi a escalada de conflitos de grandeza mundial e a morte de milhões de pessoas.

Esse mesmo nível de intolerância, que caracteriza a atuação do que Dom Orlando Brandes classifica como os "dragões", deverá causar uma convulsão social no próximo dia 30 de outubro, caso Jair Bolsonaro seja derrotado no segundo turno das eleições presidenciais.

Nesse cenário, o campo democrático brasileiro, formado por pessoas das mais diferentes matizes políticas, religiosas, econômicas e sociais, deve estar unido e coeso para enfrentar o período que separará o fim do atual governo e o começo do próximo, interregno durante o qual os dragões estarão nas suas versões mais nefastas e agressivas e o bolsonarismo fará de tudo para se perpetuar no poder.

* Cesar Calejon é jornalista, com especialização em Relações Internacionais pela FGV e mestrando em Mudança Social e Participação Política pela USP (EACH). É escritor, autor dos livros A Ascensão do Bolsonarismo no Brasil do Século XXI (Kotter), Tempestade Perfeita: o bolsonarismo e a sindemia covid-19 no Brasil (Contracorrente) e Sobre Perdas e Danos: negacionismo, lawfare e neofascismo no Brasil (Kotter).