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Constança Rezende

'Sou militante, sim', diz presidente da OAB, em resposta a Sergio Moro

Retrato de Felipe Santa Cruz, Presidente da OAB - Fernando Moraes/UOL
Retrato de Felipe Santa Cruz, Presidente da OAB Imagem: Fernando Moraes/UOL

Colunista do UOL

13/12/2019 02h00

Em novo embate com o governo, o presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Felipe Santa Cruz, disse que o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, só aceita conversar com quem ele concorda. Também afirmou ser "militante com muito orgulho" e que não pretende mudar.

A declaração foi dada ao UOL um dia após Moro afirmar que não receberá o chefe da OAB enquanto este, segundo ele, mantiver uma postura de "militante político-partidário".

"Sou militante, mesmo. Sou militante de Direitos Humanos, das causas das mulheres, dos negros, e tenho muito orgulho disso. Por isso, eles não gostam de mim. Não deixarei de ser militante dessas causas, não sou obrigado. Esse é o papel da OAB", disse o presidente da ordem,

Santa Cruz contou nunca ter sido recebido por Moro, apesar de ter pedido oficialmente duas vezes. O advogado ressaltou que, até no período da ditadura militar, a OAB dialogava com o governo, mesmo tendo uma posição contrária.

A polêmica entre Moro e Santa Cruz começou após a imprensa ter divulgado, na manhã desta quarta-feira, 11, que o presidente da OAB disse que apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) têm "desvio de caráter". Em resposta, Moro disse que só atenderia Santa Cruz se este retirasse as ofensas ao presidente e seus eleitores.

Por sua vez, o presidente da OAB disse que foi mal interpretado e que não se referiu a todos eleitores de Bolsonaro, mas aos que o elegeram por concordar com os seus ataques às minorias. Apesar disso, afirmou que não pretende se retratar.

"Acho que o presidente atrai o apoio dessas pessoas pró ditadura, pró racismo, mas obviamente essa não é a totalidade dos eleitores dele. Não vou retratar-me porque ele não nega esses posicionamentos. O que eu me preocupo é com a potencialização desse grupo que representa o retrocesso, que ignora a luta das mulheres, as causas ambientais", disse.

A discussão é mais um capítulo da rusga de Santa Cruz com o governo Bolsonaro. Em julho, o presidente atacou Santa Cruz afirmando que poderia "contar a verdade" sobre como seu pai, Fernando Santa Cruz, desapareceu durante a Ditadura Militar. "Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, eu conto pra ele. Ele não vai querer ouvir a verdade", afirmou Bolsonaro.

Bolsonaro também alegou que o pai de Santa Cruz foi supostamente assassinado por integrantes da Ação Popular (AP) — grupo de esquerda que atuava contra o regime militar.