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Constança Rezende

MP denuncia filiado ao PSL que foi à casa de avó de menina estuprada

Foto postada por Pedro Teodoro em seu perfil oficial no Facebook, em 17 de junho, na ocasião de sua filiação ao PSL, junto com o presidente da sigla na região, Delcimar Oliveira - Reprodução
Foto postada por Pedro Teodoro em seu perfil oficial no Facebook, em 17 de junho, na ocasião de sua filiação ao PSL, junto com o presidente da sigla na região, Delcimar Oliveira Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

20/08/2020 14h25Atualizada em 20/08/2020 22h12

O Ministério Público do Espírito Santo entrou com uma ação civil pública por dano moral contra o pré-candidato a vereador do PSL Pedro Teodoro dos Santos, nesta quinta-feira (20). O órgão ainda pede uma indenização de R$ 300 mil do homem, que foi até a casa da menina de 10 anos estuprada pelo tio e ficou grávida, no município de São Mateus, no Espírito Santo.

O homem ainda divulgou em suas redes sociais o nome da menina, que é protegido por questões de segurança, em uma campanha de "hashtag" para a criança não abortar.

A ação, assinada pelo promotor Fagner Rodrigues, diz que Teodoro teve acesso "de forma ilegal" aos detalhes do caso da criança, "cuja família optou por realizar a interrupção da gravidez decorrente dos atos de violência sexual".

Um vídeo obtido pelo UOL mostra Teodoro dentro da casa da menina, rezando após a abordagem, enquanto a avó da criança passa mal e é amparada por outros familiares. O homem foi ao local com integrantes do "Projeto Família Cristã", fundado por ele, e em um veículo adesivado com lemas de sua campanha.

Na denúncia, o MP afirma que Teodoro se dirigiu ao endereço da família da vítima, no dia 15 de agosto, "onde promoveu terror psicológico na responsável pela vítima a fim de que esta mudasse sua decisão a respeito do aborto legal".

"No dia seguinte, não satisfeito, ao saber que o procedimento médico seria realizado em outro estado, divulgou o nome da vítima em suas redes sociais seguido dos dizeres Todos a favor da vida me ajudem a levantar a # acima! Não se paga um mal, cometendo outro maior ainda!", diz o promotor.

A família registrou um boletim de ocorrência na polícia contra o homem, do qual o UOL teve acesso. Nele, um familiar da menina diz que a família foi surpreendida pelo presença do homem dizendo que iria prestar assistência à família, quando esta já estava assustada com a repercussão que o caso tomou.

O familiar declarou que Teodoro pressionou psicologicamente a avó, dizendo que a mesma seria responsável por qualquer coisa que acontecesse com ela. O filiado do PSL também teria colocado áudios para a família ouvir de médicos afirmando que, se a vítima abortasse, ela também correria risco de morte.

Em determinado momento da conversa, ele chegou a citar que teria acesso a um assessor da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves. O órgão negou qualquer relação com o evento e participação no vazamento de qualquer dado da criança.

No seu depoimento à polícia, Teodoro disse que "teve a intenção de levar conforto espiritual para a família", "levar o evangelho" e "prestar ajuda", mas que foi interpretado mal. Também afirmou que, "após a família entender que o depoente não ter levado apoio financeiro, pediu para o depoente se retirar".

Sobre a divulgação do nome da menina nas redes, ele afirmou que "apenas repostou as hastags usadas por uma blogueira Sara Winter". Teodoro se referiu a militante de extrema direita Sara Giromini, que divulgou dados pessoais da menina, assim como o endereço do hospital em que ela estava internada para o procedimento.

O MP também pediu que Sara pague R$ 1,3 milhão por danos morais ao Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente da cidade de São Mateus (ES).

Para o promotor, tal conduta de Teodoro "está incluída dentro de uma estratégia midiática de viés político-sensacionalista, iniciada pela que se porta como líder do grupo fundamentalista, a radical Sara Giromini".

"Sua conduta expôs a triste condição de uma criança de apenas 10 anos de idade, grávida de um familiar por quem era cotidianamente estuprada há cerca de 4 anos. A presente demanda, portanto, busca obter provimento jurisdicional no sentido de condenar a requerida ao pagamento de compensação pelo dano moral coletivo decorrente da conduta ilícita", disse o promotor.

Ao UOL, Teodoro disse ser ministro de eucaristia e da pastoral familiar e que, "ao tentar levar conforto espiritual, uma mensagem de Deus e uma alternativa para a morte", tentam fazer "várias narrativas o envolvendo em ideologias religiosas e políticas".

"Primeiro, tentaram criar a narrativa de que eu era um grupo religioso, uma coisa isolada da igreja, aí meu bispo soltou uma carta se pronunciando que eu estava em obediência à igreja. Ele sabia da minha visita como pastoral na casa daquela família para levar o evangelho , um apoio espiritual. Agora, estão com uma nova narrativa de que sou um grupo político porque nesse momento, e eu vou rezar muito para ver se eu vou continuar seguindo com esse projeto que eu tava caminhando, eu estou pré-candidato, eu não sou pré-candidato, eu estou pré-candidato", afirmou.

Ele disse também que o episódio tem desestabilizado emocionalmente ele e sua família e que é um "cara comum, pacato, que do dia para a noite virou o foco". Além disso, acrescentou que não gravou nenhum momento de sua visita à casa da família e que tudo foi feito por esta, que registrou e divulgou.

Sobre a fala sobre sua suposta relação com um assessor da ministra Damares, Teodoro disse que isso também foi "uma narrativa mal interpretada que fizeram".

"Eu fiquei sabendo, através do twitter da ministra Damares, que ela estava oferecendo ajuda e, como eu sou uma pessoa bastante atuante nas redes sociais, faço um trabalho de evangelização, eu sei que, quando a gente faz um pedido, marca alguém, essa marcação vai seguindo e, até chegar na fonte, e hoje a internet tem uma velocidade muito grande, a informação chega muito rápido. Então, naquele momento ali, emocionalmente, o meu sentimento era se referindo a esses meios", afirmou.

Teodoro disse também que nunca viu a ministra e não tem relacionamento "com pessoas dela".

"Mas, sim, pelas redes sociais eu saberia que eu conseguiria esse tipo de ajuda, se precisasse chegar. Era para dar um amparo para aquela família, naquele momento", afirmou.