Conta ligada a gabinete de E. Bolsonaro foi acessada 253 vezes da Câmara
Um documento apresentado à CPMI das Fake News no Congresso revelou que a conta Bolsofeios, responsável por ataques virtuais e estimular o ódio contra supostos adversários do presidente Jair Bolsonaro, foi acessada pelo menos 253 vezes pela rede interna da Câmara dos Deputados.
De acordo com o levantamento feito pela reportagem, com base em relatório sigiloso da comissão obtido pelo UOL, o perfil Bolsofeios foi utilizado por pelo menos dez IPs diferentes conectados à rede da Câmara. O IP é um número usado para identificar computadores conectados a uma mesma rede.
Apenas um dos IPs da Câmara foi utilizado para movimentar a conta 99 vezes, outro 84. O maior volume de acessos foi registrado no período da tarde, entre as 13h e as 18h, em dias úteis da semana. Muitos foram feitos nos principais dias de sessão no parlamento, de terça a quinta-feira.
Cada dispositivo, fixo ou móvel, que se conecta à internet recebe, durante aquele acesso, um número de IP. É esse registro que permite investigadores identificarem as fontes de mensagens oriundas daqueles aparelhos.
Página ligada ao gabinete de Eduardo Bolsonaro faz posts ofensivos
Na semana passada, o UOL revelou que o perfil Bolsofeios foi criado a partir de um computador localizado na Câmara dos Deputados e registrado a partir de um telefone utilizado pelo secretário parlamentar do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), Eduardo Guimarães.
O email do registro da conta é "eduardo.gabinetesp@gmail.com"— endereço utilizado pela assessoria do filho do presidente para a compra de passagens e reserva de hotéis, através da cota parlamentar, como mostra a prestação de contas disponível no site da Câmara dos Deputados. O mesmo e-mail consta no cartão de visitas de Guimarães, como comprovado também por documentos da Câmara.
Eduardo Guimarães recebe R$ 15,7 mil como secretário parlamentar no gabinete do filho do presidente na Câmara e mais R$ 982 em auxílios.
O perfil Bolsofeios começou a ser utilizado em julho de 2018, ano das eleições presidenciais, e foi desativado na última quarta-feira, depois que a reportagem do UOL foi veiculada.
Em seu perfil no Twitter, Eduardo Bolsonaro afirmou que página era uma espécie "de humor", com fotos e montagens de sua família, relacionadas a sua infância e adolescência, sem conteúdo ofensivo ou fake news.
Antes da conta ser apagada, a reportagem tirou prints de parte do conteúdo. As publicações apresentavam ataques contra jornalistas, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e pessoas consideradas adversárias da família Bolsonaro.
Uma delas mostrava um vídeo com imagens de Maia, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), ministros do STF e diversos políticos sendo comparados com doenças contagiosas.
Outra postagem apresentava a imagem de uma deputada que faz oposição a Bolsonaro, com a legenda de que, para combater o sexo no Carnaval, o governo distribuiria máscaras com a foto da parlamentar. Uma montagem com a foto de Rodrigo Maia seguia com a legenda "esfregaremos em vossas caras quem é o presidente nessa porra".
A imagem de Manuela d'Ávila (PcdoB) foi publicada com a legenda: "Histeria não é coragem. Chinela!". Outra, insinuava que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) era usuário de drogas.
As informações foram enviadas pelo Facebook à CPMI das Fake News no Congresso, a partir de um pedido de quebra de sigilo referente a contas no Instagram feito pela comissão. Ele foi enviado à comissão depois de um requerimento feito pelo deputado Túlio Gadelha (PDT-PE), com base em denúncias da deputada Joice Hasselmann (PSL-SP).
Joice já havia dito, em depoimento à CPMI, no dia 4 de dezembro, que a página bolsofeios pertencia ao assessor de Eduardo. Ela também apresentou um grupo secreto que reunia páginas ligadas ao "gabinete do ódio", com a presença de Guimarães e o perfil Bolsofeios. O grupo organizava um cronograma de ataques a pessoas consideradas inimigas da família.
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