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Crise Climática

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Mudança da política climática com Lula anima investidor estrangeiro

Os presidenciáveis Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) - Ricardo Stuckert e Alan Santos/PR
Os presidenciáveis Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) Imagem: Ricardo Stuckert e Alan Santos/PR

Colaboração para o UOL, em São Paulo

29/09/2022 11h00

Esta é parte da versão online da newsletter Crise Climática enviada hoje (29). A versão completa, apenas para assinantes, mostra como a agroecologia e a pequena produção de alimentos estão sendo excluídas das discussões da próxima Cúpula do Clima da ONU, COP27, que será realizada em novembro, no Egito. Quer receber o boletim completo na semana que vem, com a coluna principal e informações extras, por e-mail? Clique aqui e se cadastre.

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Jair Bolsonaro será derrotado nas eleições de outubro, segundo todos institutos de pesquisa do país. Lula, que lidera a disputa, sinaliza uma guinada na política social e climática, o que garantiu o apoio unânime do movimento ambientalista. Essa expectativa de mudança também anima setores financeiros internacionais, como revela a gestora Daniela da Costa Bulthuis, da Robeco, que administra ativos avaliados em R$ 923 bilhões (178 bilhões de euros).

Segundo Bulthuis, as políticas apresentadas pela gestão Bolsonaro aos investidores geraram muito mais preocupação do que interesse no mercado internacional.

"O governo Bolsonaro tem uma proposta focada na promoção e monetização de um potencial mercado de carbono e no desenvolvimento de uma estrutura financeira para atividades verdes", afirma a gestora. "Mas eles estão fazendo um esforço limitado na redução do desmatamento e não há um plano sobre como o Brasil cumprirá seu compromisso na COP26 de deter o desmatamento até 2028."

Bulthuis também ressalta que a forma como o governo Bolsonaro trata de temas sociais, em especial os direitos indígenas, gera apreensão. "Há um agravamento das questões de direitos humanos em torno das comunidades indígenas. O governo fala em desenvolver atividades comerciais em torno das comunidades, mas nada é dito sobre a proteção de seus direitos e integridade da terra. É um ponto de preocupação."

Com necessidade de priorizar a política doméstica e recuperar a qualidade de vida dos brasileiros, a agenda climática será a principal - e talvez a única - oportunidade que o próximo governo terá de recuperar a credibilidade internacional do país. Sobre isso, a gestora afirma que os planos de Lula são animadores:

Ele [Lula] está falando em proteger todos os biomas, estimular o uso e o tratamento de terras degradadas; alinhamento com [o Acordo de] Paris, fomentar investimentos em energia renovável e práticas agrícolas sustentáveis; proteger as comunidades indígenas e tradicionais, restaurar o apoio às agências ambientais. A intenção é muito encorajadora

Ao mesmo tempo, ela faz uma ressalva de que ainda não foram apresentados detalhes sobre como resolver "os problemas atuais de desmatamento em massa na Amazônia e no Cerrado e um plano detalhado para reduzir a criminalidade em torno da floresta."

Para ela, atores internacionais ainda não encontraram respaldo do governo brasileiro para criar um mecanismo que impeça a exportação do desmatamento. "[Sob Bolsonaro] Estamos perdendo o impulso e o apoio governamental para um sistema de rastreabilidade da cadeia de suprimentos do agronegócio", avalia. A gestora afirma que seria ótimo ter mais clareza sobre a visão de Lula em relação à rastreabilidade e sobre como o Brasil pode atingir suas metas de redução das emissões de metano, compromisso assumido na Conferência do Clima do ano passado.

Bulthuis também lamenta a ausência no atual governo de uma política de descarbonização para o setor de energia. "Não há uma política concisa para estimular a migração da produção e consumo de energia para fontes renováveis. Espera-se que a tributação da energia solar aumente em 2023, avançando na direção errada de um estímulo."

E o que mais você precisa saber

desmatamento - iStock - iStock
Desmatamento na Amazônia
Imagem: iStock

QUEDA DE 89% NO DESMATAMENTO

A expectativa de que o desmatamento vai diminuir com a mudança de governo é realmente grande no exterior. Um estudo divulgado esta semana pelo Carbon Brief aponta para uma redução de 89% nas taxas de desmatamento na Amazônia ao longo desta década se o atual presidente perder a reeleição. A análise se baseou na efetiva implementação do código florestal e do combate ao desmatamento, prometidos por Lula, e no fim do apoio do governo federal a atividades desmatadoras. Participaram desta modelagem o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), a Universidade de Oxford e o IIASA (International Institute for Applied System Analysis).

john oliver - Reprodução - Reprodução
John Oliver
Imagem: Reprodução

TORCIDA PELA AMAZÔNIA

A mídia internacional faz extensa cobertura das eleições brasileiras. O britânico Guardian, o alemão DW e o WSJ, dos EUA, mostram que o "gancho" da imprensa estrangeira tem sido o futuro da maior floresta tropical do mundo e, por tabela, o destino climático de todo o planeta. Os humoristas vão na mesma linha. O australiano The Juice Media incluiu um capítulo brasileiro na sua famosa série de Anúncios Governamentais Honestos, destacando a destruição da floresta, enquanto John Oliver explica na HBO o desastre que Bolsonaro representou para a Amazônia.

terra indígena Myky - Typju Myky, Coletivo Ijã Mytyli de Cinema Manoki e Myky - Typju Myky, Coletivo Ijã Mytyli de Cinema Manoki e Myky
Gado pastando em uma fazenda dentro do território Myky, em Brasnorte
Imagem: Typju Myky, Coletivo Ijã Mytyli de Cinema Manoki e Myky

NESTLÉ, McDONALD'S E BURGER KING

Essas são as empresas denunciadas em uma reportagem de O Joio e o Trigo por comprar carne proveniente de território indígena sob disputa no Mato Grosso. A Marfrig é a dona do abatedouro localizado em Tangará da Serra (MT) que adquiriu o gado implicado na denúncia. Segundo a reportagem, realizada em parceria com o The Bureau of Investigative Journalism, os registros alfandegários indicam que o abatedouro exportou quase R$ 6 bilhões em produtos de carne bovina desde 2014 a vários compradores da China, Alemanha, Espanha, Itália, Países Baixos e Reino Unido.

termelétrica - Ralf Geithe/Getty Images/iStock - Ralf Geithe/Getty Images/iStock
Chaminé, poluição, usina, termelétrica
Imagem: Ralf Geithe/Getty Images/iStock

ENERGIA FÓ$$IL

A ONG Arayara abriu uma ação civil pública para impugnar o leilão de térmicas da Eletrobras marcado para a sexta-feira (30). O certame contratará 2 gigawatts de termelétricas inflexíveis a gás fóssil, que ficarão ligadas obrigatoriamente em 70% do tempo, mesmo que exista energia mais barata à disposição. O IDEC (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) estima que isso vai elevar em R$ 111 bilhões o custo de operação e manutenção do sistema elétrico entre 2022 e 2036, enquanto o IEMA (Instituto de Energia e Meio Ambiente) aponta para a emissão de 5,2 milhões de toneladas de carbono, além de poluição do ar, desmatamento e estresse hídrico no Norte e Nordeste. A Folha deu detalhes.

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